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Duas tentativas e um linchamento são registrados em menos de 15 dias

No último dia 23, um homem foi espancado até a morte por populares. Para psicóloga, atitude é reflexo da fragilidade social

02/09/2018 09:02

Somente este ano, foram registradas sete tentativas de linchamento contra assaltantes no Piauí. Desses, três foram registrados em Teresina, em apenas 14 dias. O dado chama atenção pela forma como as agressões ocorreram. A população agrediu os suspeitos com chutes, pontapés, pedra, pedaços de madeira, capacete e até arma de choque e faca.

No último dia 23, um homem foi espancado até a morte por populares no bairro Cristo Rei, zona Sul de Teresina. A vítima fatal foi baleada durante um suposto assalto e depois espancada com pedaços de pau e pedras. Outro suspeito também foi alvo de agressões, mas sobreviveu e foi encaminhado ao HUT.


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Para a psicóloga Denisdéia Sotero, o linchamento é uma atitude preocupante, mas que tem se tornado cada vez mais comum. Ela explica que essas ações são reflexo da fragilidade social das pessoas e da descrença na Justiça, e pontua que o linchamento é um crime, e que não justifica reagir com violência como forma de combater a violência. 

Segundo ela, é difícil, mas as pessoas precisam tentar controlar seus instintos e impulsos e acrescenta que a violência pode despertar nas pessoas ato de tentar cometer justiça com as próprias mãos. A especialista pontua ainda que, quando uma pessoa age de forma violenta, ela pode instigar outras pessoas a também agirem de tal forma.

"É possível uma pessoa ter um comportamento agressivo e violento e motivar outras pessoas a fazer o mesmo. O linchamento é um aglomerado de pessoas agredindo uma única pessoa, então, às vezes, um fica esperando a atitude do outro, e quando esse toma uma atitude, imediato os outros já começam a agredir", explica.


Foto: O DIA

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PI, Marcelos Mascarenhas, o linchamento é problemático por vários motivos. Entre eles por não dar a possibilidade para a vítima se defender das acusações. “Isso faz com que, em muitos casos, o linchamento seja praticado contra inocentes, contra pessoas que estão no lugar errado, na hora errada. Muitas injustiças são praticadas sob a ilusão de que está praticando justiça com as próprias mãos”, afirma.

Segundo ele, outro problema identificado no linchamento é a pena desproporcional com a qual o acusado paga pelo suposto crime. Em muitos casos, pessoas suspeitas de crimes de menor potencial ofensivo, como um furto, acabam pagando com a própria vida. Além disso, o advogado chama a atenção para o fato de que, ao participar de um linchamento, o “cidadão de bem” acaba se tornando também em um criminoso.

“Se da prática do linchamento se resultou na morte da vítima, temos um homicídio qualificado com um concurso de autores, ou seja, várias pessoas que participaram dele. Se antes você tinha uma pessoa poderia ter cometido o crime, agora você tem um conjunto de pessoas que são efetivamente criminosas. Ou seja, ao invés de você coibir a criminalidade, você está gerando mais criminosos”, alerta.

Por isso, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PI enfatiza que é importante que o suposto criminoso, no caso a vítima do linchamento, seja julgado pela Justiça. “As garantias judiciais não foram feitas para proteger bandido e, sim, para impedir que um inocente seja tratado como criminoso. Ainda com essas garantias, por vezes o próprio judiciário comete erros. O judiciário tanto compreende que é falho que submete as suas decisões a um outro grau de controle, as decisões são passíveis de recursos e de serem revistas por outras instâncias”, finaliza.

Por: Nathalia Amaral e Isabela Lopes
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