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Entidades repudiam artigo com conteúdo "˜machista"™ publicado em jornal

As palavras do cronista ao fazer referência ao pudor feminino como forma de "atrair" o homem foram interpretadas como "sexistas e preconceituosas".

25/01/2019 17:16

Um artigo de opinião publicado nesta sexta-feira (25) em um jornal impresso do Piauí foi alvo de críticas por várias entidades do estado, como o Ministério Público, a Defensoria Pública Geral do Estado do Piauí e o Departamento Estadual de Proteção à Mulher do Piauí. Isso porque, no artigo, o autor, o cronista José Maria Vasconcelos, faz referências ao pudor feminino como forma de “atrair” o homem.

Em um dos trechos do texto, o cronista diz: “Fechem as delegacias da mulher, providenciem condutas de pudor feminino, vergonhas mais escondidas. Homens, comumente, só avançam se elas abrirem as pernas”. As palavras do autor foram interpretadas como “sexistas, intolerantes e preconceituosas”, como frisou a delegada Anamelka Cadena, diretora do Departamento Estadual de Proteção à Mulher, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Segurança Pública.

Nas redes sociais, as frases em tom misógino foram encaradas como um desrespeito às mulheres e até mesmo como forma de culpabilização das mulheres vítimas de violência sexual, em especial ao afirmar que os homens “só avançam se elas abrirem as pernas”. “Homens, em geral, não avançam na mulher pudorosa, reservada e decentemente ajuizada, que não expõe a sua intimidade emocional e física”, completa.

Em nota, a Defensoria Pública Geral do Estado do Piauí se posicionou sobre o caso e afirmou que o texto procura justificar o comportamento criminoso de agressores de mulheres, tentando condicionar essas agressões ao comportamento da vítima, no caso, pelas vestimentas. 

Para a delegada Anamelka Cadena, a idealização de uma mulher sublime, perfeita e a exigência de que ela se adeque a determinados padrões físicos e comportamentais são resquícios do famigerado machismo que robustece a violência de gênero “tão odiosamente combatida pela sociedade civil e instituições formalmente constituídas”.  Somente no Piauí, 110 mulheres foram brutalmente assassinadas em um contexto de violência de gênero, desde a criação da Lei do Feminicídio, em março de 2015. 

“Apesar dos inúmeros avanços, principalmente no que tange aos alcances legislativos de proteção a mulher e nas políticas públicas desenvolvidas com o escopo de tanger a violência, é lamentável nos deparamos com um conteúdo de uma matéria veiculada em um meio de comunicação, portanto formador de opiniões, eivado de conservadorismo e preconceito, incompatível com o mundo tão desenvolvido no qual nos inserimos e queremos fortalecer”, disse em nota a diretora do Departamento Estadual de Proteção à Mulher.

A promotora de Justiça Amparo Paz, titular da 10ª Promotoria de Justiça e coordenadora do Núcleo de Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (NUPEVID), do Ministério Público do Piauí (MP-PI), afirmou em nota que as mulheres são estupradas independente de suas vestimentas e que as roupas não podem interferir em nada na liberdade feminina, muito menos impor sentimento de culpa na vítima. “A vida ou roupa de uma mulher não se resumem à intenção de conquistar ou exibir-se para um homem. Devemos entender que a mulher usa a roupa que ela quiser! Isso não define seu caráter e muito menos ela está pedindo para ser abusada ou assediada por ninguém”, frisou.

No seu perfil em uma rede social, o professor comunicou que decidiu retirar o texto da página diante da repercussão negativa. “Não tive a mínima intenção de agredir as mulheres, especialmente aquelas que se vestem, digamos, excedendo-se na falta de pudor. Também não tive propósito de desrespeitar instituições em defesa da mulher, especialmente as que sofrem agressões do homem. Perdoem-me se me excedi nos julgamentos”, alegou.

A reportagem do ODIA procurou o professor para comentar as críticas feitas a respeito do artigo de opinião publicado, mas o mesmo não foi encontrado para dar esclarecimentos sobre o ocorrido.

Por: Nathalia Amaral
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