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Idosos comemoram independência na forma de viver a vida

Especial Centenários: especialistas afirmam que a longevidade está associada à melhoria dos fatores socioeconômicos.

06/09/2019 07:10

No próximo dia 14 de setembro, Maria Ferreira Borges chegará aos 90 anos. Para comemorar a data, parte da família, composta de nove filhos, 54 netos, 61 bisnetos e nove tataranetos, organiza uma grande festa. A data contará com tudo que a história nonagenária tem direito, inclusive, um ensaio fotográfico feito previamente para servir de destaque no evento. Entre poses e sorrisos, Maria conta a satisfação de chegar na casa dos 90 como sempre levou a vida: cercada de gente, ativa e feliz.


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“Sempre trabalhei muito e até hoje não fico parada sem fazer nada. Eu faço uns tapetes de tira de pano, bordo, vendo e muitos dou para as minhas filhas. Não posso é ficar parada porque se eu ficar parada, eu adoeço. Estou nesta idade, mas eu conto as vezes que estive internada: nenhuma. Sou muito feliz por chegar aos 90 anos assim, muito bem”, considera.


Maria Ferreira Borges comemorará 90 anos no próximo dia 14 - Foto: Jailson Soares/O Dia

Tão bem que ela se tornou referência para a família. O que dona Maria diz é acatado e muito bem escutado, além do jeito despojado e contagiante ser espelho até para os mais novos e agregados membros da grande família Ferreira. “Tenho anotado o número de membros da minha família porque nem todos moram aqui e é muita gente. Hoje, até os amigos dos meus netos me chamam de vó, então, eu não tenho o que reclamar, sou cercada de gente que, ao que parece, me quer muito bem”, ressalta.

A vitalidade e independência são marcas fortes da senhora, que diz não ter segredo para levar a vida. Para Maria, o cuidado com a manutenção da mente ativa e uma alimentação balanceada apontam que os 90 anos serão parte de uma história que ainda tem muito o que experienciar.

Longevidade está ligada à melhoria de fatores socioeconômicos, destaca geriatra

A adoção de uma alimentação balanceada e cuidados com a saúde são pilares essenciais para o envelhecimento da população, como destaca o médico geriatra Wesley Damásio. Mas não só isso. O especialista  também destaca que o envelhecimento da população tem a ver com as condições de vida em que os indivíduos estão inseridos. Isso quer dizer que quão melhor for o cenário de acesso a serviços básicos, por exemplo, mais as pessoas podem alcançar a longevidade.

O médico chega a comparar a expectativa de vida entre os estados mais e menos desenvolvidos no país. “Nós temos um problema social que precisa ser encarado. Por que em Santa Catarina as pessoas vivem, em média, 79 anos e, no Piauí, apenas 71, enquanto a média do Brasil é de 76 anos? É porque onde tem saneamento, acesso à saúde, serviços básicos, a população envelhece mais e melhor”, explica.


"Onde tem saneamento, acesso à saúde e serviços básicos a população envelhece mais e melhor"


Para o médico, investir em escolaridade, vacinação e saneamento básico são aspectos tão importantes quanto cobrar e insistir em uma alimentação balanceada para os idosos. 

Wesley Damásio destaca que, enquanto na Capital do Piauí seus atendimentos acontecem para um público maior que 60 anos, no interior do Estado, ele diminui a média para 50 anos. “Em cidades menores, onde a infraestrutura e a escolaridade são reduzidas, temos que informar mais e melhor para que as pessoas consigam envelhecer com qualidade”, explica.

Assim, são as escolhas individuais, mas também a oferta do cenário de desenvolvimento social e econômico que continuarão a contar para a longevidade da população. 

Mãos que plantam e colhem

Natural de Campo Maior, município ao Norte do Estado, José Serapião de Sousa Filho, 90 anos, é um dos moradores mais antigos do bairro Boa Esperança, que integra a região do Poti Velho, zona Norte de Teresina e de onde a cidade se iniciou. Ele mora no local há mais de 50 anos e viu muitas mudanças acontecerem em seu entorno. Viu também sua perspectiva de vida melhorar.

E das terras onde ergueu sua casa e criou sua família, José Serapião sempre tirou o alimento que ia para sua mesa. Nos anos 50, o local era rodeado de fazendas e ele era responsável pelas vacarias. Foi na região onde o senhor casou com Vitória Cardoso de Melo (hoje com 67) e da união, que já dura 41 anos, nasceram seis filhos. Hoje, a família está maior, com 11 netos e cinco bisnetos. Todos morando ali, uns perto dos outros.


José Serapião de Sousa Filho, hoje com 90 anos, viu sua perspectiva de vida melhorar com o tempo - Foto: Elias Fontinele/O Dia

Na vila, essencialmente formada por pescadores, pequenos agricultores e comerciantes, ele plantava e criava tudo que era essencial para sobrevivência. A esposa de José Serapião, Vitória Cardoso, lembra que, assim que se mudou para o bairro, não haviam tantos moradores como hoje. 

“Criamos nossa minha família aqui, criando animais, como galinhas, porcos, perus, pato e plantando. Hoje temos feijão, quiabo, abóbora, melancia tudo no quintal, então é só chover que a gente planta. O que compramos no mercado é o que não produzimos, como o arroz, mas o que consumimos vem das nossas terras”, fala em tom de auto gratulação.

Para Serapião, ter cuidado de si e da família de uma forma tão próxima é, também, uma forma de impulsionar a vida. Aos 90 anos, o apego pela terra, pela família e pela vida só cresce.

Por: Isabela Lopes e Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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