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Mobilizações em favor da vida mostram que há chances de enfrentar o suicídio

Segundo a Sesapi, o Piauí tem a Taxa Bruta Mortalidade Especifca por Suicídio 43% maior que a média nacional

18/09/2016 11:12

As mortes por suicídio permanecem sendo um tabu na sociedade, mas não mais sem enfrentamento. Pelo menos é isso que iniciativas realizadas durante todo o mês de setembro e no decorrer do ano, sejam através de organizações públicas ou particulares, tentam mostrar: há sempre medidas de proteção e valorização à vida. Há sempre uma chance. 

O último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que acontece, em média, um suicídio a cada 40 segundos em todo o planeta. No Piauí, os dados são alarmantes. De acordo com estudo divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado, o Piauí tem a Taxa Bruta Mortalidade Especifica por Suicídio 43% maior que a média nacional. Enquanto no Brasil a taxa é de 5,3 mortes por grupo de 100 mil habitantes, no Piauí esse indicie chega a 7,6 mortes, considerando dados de 2014. 

Iniciativas pontuais e já efetivadas no Estado tentam ir de contra os altos índices. Espaços como o Provida, programa desenvolvido no Hospital Lineu Araújo, Centro de Teresina, conta com um ambulatório que fica disponível durante todos os dias da semana, nos dois turnos, para receber pacientes através de atendimento psicológico e psiquiátrico, com objetivo de atuar no enfrentamento a ideias suicidas em Teresina. 

O espaço ressalta a necessidade do diálogo aberto e preventivo sobre o tema, que deve fazer parte da sociedade. Aspectos emocionais, psiquiá- tricos, religiosos, sociais e culturais podem estar associados ao suicídio. Por isso, é imprescindível que os fatores de risco sejam identificados o quanto antes pelas pessoas próximas ao convívio, tais como transtornos psiquiátricos, abuso de substâncias como álcool e outras drogas, brigas familiares, perda do emprego, doença grave, dívidas, entre outros. Nesse cenário, a informação é a principal ferramenta. 

Iniciativas preventivas não param de acontecer. Gláucia Fernanda, acadêmica de Psicologia e presidente da Liga de Acadêmica de Suicidologia do Piauí (LASPI), coordenou a roda de conversa sobre Mitos e Verdades acerca do suicídio e destacou a necessidade de “desmistificar e trabalhar a temática através de atitudes acolhedoras e humanas. A pessoa que está em intenso sofrimento e que pensa no suicídio como solução, ela ainda pode ter, e normalmente tem, um sentido de vida, alguma coisa que liga ela a vida, então a gente trabalha em cima disso”, explicou. 

As atividades da campanha “Prevenção ao Suicídio - Setembro Amarelo”, foram promovidas em parceria com o Ministério Público, veículos de comunicação, Hospital do Mocambinho, Hospital Getúlio Vargas, PróVida, Centro de Valorização da Vida(CVV), Conselho Regional de Psicologia(CRP21), Conselho Regional de Medicina(CRM), Secretaria de Estado da Educação, e universidades públicas e privadas. 

Setembro Amarelo 

O movimento do Setembro Amarelo é mundial e ocorre no Brasil desde 2014. Ele tem duração de 30 dias e foi escolhido para acontecer no nono mês do ano, pois o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Ano passado, o evento começou a crescer para outros estados brasileiros e ocupou todas as regiões do Brasil.

Campanha “Abraços grátis” orienta população por meio de afeto 

Vê-se a placa ao longe e as letras coloridas não deixam negar a oferta: jovens oferecem abraços grátis como uma forma de incentivar a troca de afeto, preocupação com o outro e a troca de informações. A iniciativa de estudantes de universidades particulares de Teresina é uma forma de combater as altas taxas de suicídio da capital. 

Fotos: Glenda Uchôa/ODIA

Para Francisco Anderson, estudante do segundo período de psicologia, a iniciativa é essencial dentro da proposta de valorização da vida. “A pessoa que tem ideia suicida quer atenção, quer ser ouvida, um espaço desse pode virar o dia da pessoa para melhor. Ela pode ver que a vida não é tão ruim quando ela pensa”, destaca. 

Como ele, outros jovens se mobilizam na causa. Um abraço fraterno, colocar-se a disposição de um desconhecido, é a forma que os jovens tem achado de quebrar barreiras dentro da sociedade. “Estamos distribuindo abra- ços, ofertando uma roda de conversa amiga, acho que são atitudes como essa que podem mudar de fato a sociedade”, afirma. 

Empunhando cartazes e sorrisos fartos, os jovens realizam a iniciativa no Parque da Cidadania, Centro de Teresina. A proposta que acontece na vida real, também ganha outras versões nas redes sociais. Através da campanha em que o usuário do Facebook disponibiliza sua caixa de mensagem para trocar ideias e ouvir outrem, a rede de empatia e solidariedade aumenta, principalmente, entre os jovens da Capital e de todo o Brasil

“Uma palavra amiga pode facilitar o processo de buscar ajuda”, diz psicólogo 

Um atendimento psicológico que não precisa de marcação de consulta, ou seja, quem desejar usufruir do serviço só precisa ir até o local para buscar um horário de atendimento disponível, que pode acontecer de forma imediata. É assim que o Provida, programa desenvolvido pela Fundação Municipal de Saúde, com sede no Hospital Lineu Araújo, deseja transmitir a população: disponibilidade. 

O psicólogo Daniel Feitosa, que acompanha o programa desde a sua criação, destaca o objetivo do Provida. “O Provida é um ambulatório que atende pessoas que estejam passando pelo que chamamos de crise suicida, isso quer dizer: pessoas que pensam em suicídio ou que planejem algo relacionado a isso ou que recentemente tenham tentado suicídio. Aqui é prestado esse atendimento tanto medico quanto psicológico”, esclarece. 

Segundo o profissional um traço característico de quem busca o atendimento são de pessoas que passam por sofrimento intensos. “Uma pessoa que vivencia uma crise suicida passa por um sofrimento psíquico intenso. Ela pode experimentar sentimentos de desesperança, de desespero, não consegue antever nenhum tipo de solução para o problema, não consegue antever paz, é um colapso, não vê saída. Quem vive em uma situação desse tipo ou conhece alguém que viva, deve ficar atento. Essa pessoa precisa de ajuda”.

Para o profissional, muitas vezes, uma palavra amiga, um tempo para escutar alguém, já é suficiente para contribuir para que a pessoa que esteja desenvolvendo uma crise suicida busque atendimento. O importante está aí: é necessário um acompanhamento profissional. 

O ambulatório fica disponível durante todos os dias da semana nos dois turno. Desde sua criação, em 2014, o programa já atendeu cerca de 400 pessoas. “Temos pessoas que logo nos primeiros meses já resinificam aquela crise, tem outras pessoas que levam mais tempo. 

Mas temos colhidos muitos resultados positivos, quando percebemos que pessoa come- ça a vislumbrar novas possibilidades em sua vida. Quando ela começa a entender o que se passa por sua vida e se apropriar da sua realidade. A gente vê isso muito a medida que a pessoa adere ao tratamento”, afirma. 

Segundo Daniel, uma das barreiras enfrentadas para que mais pessoas busquem o tratamento adequado são os estereótipos impostos dentro da sociedade. “Muitas pessoas não tem compreensão que esse sofrimento que muitas pessoas relatam, fruto de uma depressão, de uma ansiedade, é sim uma fonte de sofrimento. Mas temos muito a cultura de considerar que é frescura, que a pessoa está exagerando. Mas não é isso. A pessoa tem dificuldade de lidar com situações, pode ter um fator preponderante. Então é importante que as pessoas que convivam, pessoa que tenham vinculo, busquem deixar uma palavra amiga, escutar, isso já facilita processo de buscar ajuda”, finaliza.

Por: Glenda Uchôa - O DIA
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