Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Variante Delta: exame não é feito no Piauí e pesquisador critica: "tempo dela se alastrar"

A carga viral de uma pessoa contaminada com a variante Delta é 1.200 vezes maior que a de alguém contaminado pela cepa original do coronavírus. Diagnóstico tardio no Piauí preocupa.

18/08/2021 10:13

O Piauí registrou nesta terça-feira (17) o primeiro caso suspeito de infecção pela variante Delta do coronavírus. Os especialistas consideram esta variante uma das mais transmissíveis e de maior poder de alastramento entre a população. Isso, porque ela tem uma capacidade de infectar a célula humana muito maior que o vírus original e inclusive maior que outras variantes, já que os mecanismos de ligação do vírus com o corpo ficaram mais eficientes.


Leia também: Variante Delta pode provocar 3ª onda da pandemia se medidas restritivas não forem mantidas 


É justamente esse poder maior de infecção e transmissão da variante Delta que preocupa as autoridades e especialistas em saúde no Piauí. É que o Estado não possui ainda o aparato técnico para fazer o sequenciamento do genótipo do agente contaminante, ou seja, não realiza ainda o exame que pode confirmar ou não a infecção pela variante Delta. Por conta disso, a amostra colhida pelo Lacen (Laboratório Central do Piauí) tem que ser enviada para outro estado para testagem e até que o resultado saia, a variante pode já ter se alastrado.

A crítica é feita pelo professor Emídio Matos, doutor em Ciências Biomédicas e membro do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UFPI. “Quanto mais pessoas infectadas tiver, maior é a chance de surgirem outras variantes como uma Delta Plus, que seria a variante da variante. E em um país como o Brasil, que tem muitas pessoas que ainda não estão completamente imunizadas, temos um risco muito grande. A preocupação aqui no Piauí é a demora no sequenciamento do vírus, então até se confirmar, já foi um tempo enorme e até lá a variante pode ficar circulando. Aqui a gente vai saber tardiamente se é ou não a variante”, diz.


O professor Emídio Marques faz um alerta sobre o poder de transmissão da variante Delta - Foto: Reprodução

O poder de contaminação da variante Delta foi atestado inclusive em números. Segundo os levantamentos do Centro de Controle de Doenças Norte-Americano (CDC), a carga viral de uma pessoa infectada com a variante Delta é mais de 1.200 vezes maior que a do vírus original. Especialistas lembram que uma pessoa com a carga viral muito maior tem uma chance também muito maior de infectar outras pessoas e mesmo aquelas que já estão vacinadas, em caso de infecção, podem transmitir para outras pessoas da mesma forma que uma não vacinada.

É que vacina nenhuma impede o indivíduo de adoecer e transmitir a doença. Ela evita casos mais graves e mortes e, consequentemente, contribui para que os índices de óbitos e internações caiam, o que ajuda bastante no controle de uma pandemia. As mutações, como a P1, a Delta e a Gama Plus, que é a variante da P1, também são mais comuns do que se pensa, ainda mais em casos de vírus respiratórios.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

O professor Emídio Matos explica que mutar não é uma especificidade do coronavírus. “A exemplo disso é que a vacina contra a gripe é sempre renovada. Sempre se pega as quatro cepas que mais circularam na América Latina no ano anterior e se produz uma vacina nova, porque os vírus respiratórios sofrem mutações”, explica.

As únicas alternativas para se conter o avanço do vírus, seja ele variante ou cepa original, é a manutenção dos cuidados sanitários como uso de máscara e álcool em gel, e se vacinar. “A vacina é uma resposta de defesa do organismo e protege contra o adoecimento grave mesmo pela variante Delta. É importante agente sempre frisar que a primeira dose sozinha não imuniza. Só está de fato imunizado contra a covid-19 quem tomar a segunda dose e só vinte dias depois, que é o tempo de resposta do organismo”, finaliza Emídio.

O que diz a Sesapi

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi) disse que a amostra colhida do paciente com suspeita de infecção pela variante Delta ainda não foi encaminhada pelo Lacen para o Estado da Bahia, onde fica o laboratório que faz o sequenciamento genético do vírus. O Lacen está primeiro avaliando a carga viral para ver se realmente precisa ou não enviar a amostra.

A Sesapi admitiu que o tempo de espera pelo resultado do exame pode ser longo, porque o laboratório que vai analisar a amostra encaminhada pelo Piauí atende também a vários outros estados por ser um dos poucos do Brasil que são laboratório de referência. Estas instituições, explicou a Sesapi, são de responsabilidade do Ministério da Saúde.

Mais sobre: