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"œAs pessoas deixam de viver, se apegando a questões pequenas", diz Falcão

Oferecendo ao público algo novo, o músico carioca falou com exclusividade ao Jornal ODIA sobre o processo que o levou a ficar 11 meses em estúdio.

23/03/2019 09:09

Sem referência políticas diretas e falando do amor – aos fãs e ao próximo, Marcelo Falcão lança seu primeiro trabalho solo chamado “Viver (Mais leve que o ar)”, misturando reggae, pop e rock. Oferecendo ao público algo novo, o músico carioca falou com exclusividade ao Jornal ODIA sobre o processo que o levou a ficar 11 meses em estúdio, a necessidade de produzir um trabalho que refletisse seu momento atual e a importância de dar espaço a novos talentos da música. 

Com uma banda de músicos experientes, composta por Bino Farias, do Cidade Negra (baixo), João Fera, parceiro dos Paralamas (teclados), Hélio Ferinha (teclas), DJ Negralha, Marcos Suzano (percussão), Felipe Boquinha, de O Rappa (bateria), Edésio Gomes, Eneas Pacifico e Vinicius de Souza (metais), Marcelo Falcão espera incluir Teresina em sua lista de shows ainda esse ano. 

Além dos vocais e da produção, ele assina as letras do disco e toca sintetizador, synth de baixo, violão, caixa de fósforo e a clássica “guitarra pica-pau” do reggae. A quinta música, “Só por você”, uma das melhores do disco, proporciona pausa de refresco ragga e dub, com significativos 4’20’’ de duração (4:20 é um código de referência ao consumo de maconha (cannabis).


Foto: Jacques Dequeker / Divulgação

Fechando o trabalho, outra surpresa, que surgiu a partir da memória afetiva de Falcão, criado em família católica: uma regravação reggae, simples de “Senhor, fazei de mim (Instrumento de Sua Paz)” (“Oração de São Francisco”). Além de um hiato indeterminado da banda O Rappa em 2018, esse ano nasce seu filho Tom, com Érica Bauchiglione. Alguma parte do seu primeiro trabalho solo foi influenciado por essas mudanças na sua vida? 

Na verdade, o que influenciou mesmo foi essa história da responsabilidade de todo amadurecimento que eu conquistei, toda bagagem que tenho acumulado durante esses anos. Senti necessidade de fazer alguma coisa dessa vez do meu jeito. Por acaso em algum momento fiz uma música voz e violão, bem simples, tranquila, e mostrei pro presidente da gravadora e ele gostou. A partir daí decidimos que poderia se tornar um trabalho solo. Como tinha muito material guardado, tinha muita música para escolher.

Como funciona a seleção do que realmente vai chegar até a versão final do CD? 

Você junta com pessoas em que você confia, que você ama e que estão na mesma vibe que você. Enquanto eu terminava a última turnê de O Rappa, chamei essas pessoas pra perto de mim e dei liberdade para elas darem uma olhada nas coisas que estivem mais prontas para que ficasse mais fácil quando chegasse a hora de começar a seleção. Não vou mentir, mas quando vi 600 arquivos fiquei apavorado, reduzimos para 70 e depois chegamos em 47. Depois eu e o Felipe Rodarque (que divide os créditos de produção com Marcelo) escolhemos o que realmente iria entrar no disco. Fiquei 11 meses em um estúdio, no Toca do Bandido, e consegui fazer algo que acredito ser o meu momento atual. 

Em uma das suas músicas, “Só Por Você”, alguns fãs questionaram se havia alguma relação com o uso de drogas – que aparece implícito no clipe. Você se preocupa com a interpretação que as pessoas fazem das suas músicas? 

Música é um filho que você larga no mundo, né? É sempre na minha cabeça ela vem como uma história de eu ter sonhado muito em ter subido nos palcos e fazer shows, e eu ficava no estúdio pensando que só por vocês, os fãs, eu queria voltar aos palcos. 

Eu quero ver vocês ali comigo, só por vocês eu sinto me curar, a minha interpretação particular é essa, mas cada pessoa interpreta de alguma forma, e isso é muito bacana. 

O que você dizer para as pessoas que comparam o trabalho de O Rappa com esse seu trabalho solo? 

Não tem nada para se comparar, não existe isso. O que existe é esse trabalho que fiz agora. Fui o último da banda a lançar um trabalho solo, queria fazer algo que fosse do meu coração, na simplicidade, na pureza, na maneira como enxergo meu mundo, e acredito que consegui. 

Sobre a participação do Cedric Myton, integrante do mítico grupo The Congos, como foi concretizada? Já está pensando em mais participações especiais para o próximo CD? 

Temos muito amigos em comum, e um desses amigos, o Bruno, falou que o Cedric estava indo pro estúdio me ver. Foi uma tradução simultânea do que eu canto, e por incrível que pareça, quando colocamos as vozes juntas, vi que tinha que ser dessa forma. Vejo ele como um mestre, ele ficou muito feliz de participar, e eu atirei por um caminho que o meu momento pedia. Alguns desses shows que tiver no Brasil vou conseguir trazer ele aqui pro meu lado, faço questão. Sobre as participações, poderia ter enchido o trabalho de pessoas do meu lado, mas pensei: vou cuidar das coisas que eu preciso, e no outro disco eu invento uma loucura maior, mas nesse disco eu precisava externar esse meu sentimento do meu jeito, de uma linguagem simples e direta, e o Cedric fez parte disso. Quis falar do meu amor plural, de amor pelos fãs, falar o que eu realmente acredito, que é viver. As pessoas estão deixando de viver, se apegando a questões pequenas, e eu precisava dar esse grito. 

O primeiro clipe lançado foi o da música “Viver”, que contava com participações de alguns nomes da música brasileira: Chino (Oriente), Pablo Martins (1Kilo) e a cantora IZA. Qual a mensagem que você quis passar ao incluir novos talentos nas imagens? 

Eu acho importante esses músicos mais novos ,porque se a gente não der espaço pros mais novos ,os velhos vão ficar muito velhos e não vai existir uma renovação da música, algo que é super importante. Se for falar de algum que eu acho legal, o pessoal do 1Kilo, do Oriente, e a IZA, que são algumas das pessoas que eu chamei pra estar no meu clipe, exatamente oferecendo espaço pros novos com pensamentos de novos esse espaço. 

O que os fãs podem esperar da sua turnê solo, que inicia agora em abril? 

Agora estou em estúdio ensaiando, são 10 músicos comigo, e o primeiro show vai se dia 6 de abril. Não abro mão de tocar em Teresina, em todas as capitais do país – esse foi meu comprometimento com meu escritório(o músico assinou contrato com a Luan Promoções, mesma empresa que agencia a carreira do cantor Wesley Safadão). Já toquei para multidões, e agora quero tocar para quem estiver afim de ouvir um som diferente. O Rappa todo mundo já conhece, quero pessoas que queiram ouvir algo novo.

Por: Biá Boakari - Jornal O Dia
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