Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Candidata se declara conservadora e propõe uma gestão participativa na UFPI

Entrevista: a candidata a Reitoria da UFPI pela chapa "Renova Ufpi", professora Sandra Lima Vasconcelos Ramos, diz que é defensora da universidade pública e gratuita.

03/08/2020 06:57

Em entrevista a O DIA, a candidata a Reitoria da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) pela chapa "Renova Ufpi", professora Sandra Lima Vasconcelos Ramos, e vice o professor Bruno Leonardo Maranhão Diniz, ao se apresentar como uma candidata conservadora por defender princípios da família e de valores, diz que a polarização político-partidário deturpa esse discurso e que é defensora da universidade pública e gratuita, da manutenção do diálogo com o MEC para atrair melhorias para instituição e que o tripé do plano de sua gestão será a excelência acadêmica. Não é a favor da ideologia de gênero, embora seja uma pesquisadora sobre o assunto, e que é preciso lutar por uma universidade que tenha um espaço plural onde possa ter, por exemplo, núcleo de pesquisa que trabalhe temas como ciência e fé. Disse que vai dar incentivo à pesquisa científica por sua importância para ajudar no desenvolvimento do Piauí e que pretende fazer uma gestão participativa na Ufpi.

- De maneira geral, qual é a importância da UFPI dentro do processo histórico no Piauí?

Sabemos da importância da Universidade Federal, em primeiro lugar por ser um espaço de educação superior pública e gratuita. Uma das coisas que precisamos deixar muito claro em nosso projeto de gestão é exatamente isso, porque muitas das vezes essa polarização político-partidária que tem acontecido na nossa história nas últimas décadas faz com que deturpe o nosso discurso. Sou uma candidata que me apresento como conservadora, que defendo os princípios da família, valores que foram ao longo dos tempos se perdendo dentro do espaço acadêmico, mas isso não quer dizer que não tenhamos diálogo, aproximação e também reconhecimento da diversidade dentro do espaço acadêmico. Então, quando falamos sobre essa importância, falamos sobre isso. Sou defensora da universidade pública e gratuita, e estarei lutando também para garantir a autonomia da Ufpi e defendendo o trânsito com o Ministério da Educação, com o Governo Federal, porque precisamos estabelecer diálogos com essas instâncias, uma vez que o MEC está a nosso serviço e não ao contrário. Com isso, trazer as melhoras coisas para a nossa universidade. A importância histórica da Ufpi se dá pela sua produção e acesso à formação profissional. Um dos tripés de nosso plano de gestão é a excelência acadêmica. Para que possamos assegurar essa excelência acadêmica, precisamos trabalhar uma educação de qualidade que envolve muitas coisas que foram se perdendo ao longo do tempo. Então, precisamos resgatar esses valores, resgatar o espaço acadêmico de produção científica e não mais aquele espaço que está sempre associado à militância político-partidário, mas um espaço que tenha cheiro e cor de produção científica. E aí, o estudante que vem do interior para a universidade, e é esse o papel histórico dela em dar acesso a essas pessoas ao conhecimento e a produção científica para que possam se sentir no ambiente acadêmico de produção de pesquisa e de formação profissional excelente.


A professora Sandra Lima Vasconcelos afirma que o tripé do plano de sua gestão vai ser a excelência acadêmica - Foto: Divulgação

- Professora, como o Senhora vê a polarização direita verso esquerda na política universitária, porque fala-se muito que a universidade pública produz mais militante do que estudante. Qual a sua opinião a respeito dessa questão?

Bom, estou há dez anos na Ufpi mas antes disso estive também na Universidade Estadual do Piauí e em algumas faculdades privadas. E isso tem acontecido no meio acadêmico. Essa polarização político-partidário tem adentrado de uma forma muito nos moldes acadêmicos, porque o que temos hoje na universidade quando se pega nos planos de cursos uma forte prevalência de textos teóricos científicos de uma única corrente que são ligados a movimentos de partidos socialistas e comunistas, no pensamento marxismo e isso estão dentro dos projetos dos cursos. Obviamente, isso tem produzido uma certa militância porque culmina na mudança de práticas sociais. Vivenciamos nas últimas décadas governos de partidos que defendem o socialismo e comunismo e, claro, que a universidade recebeu essa influência na formação profissional acadêmica e isso a gente tem que ir mudando para que possamos ter um espaço e fórum onde ocorra produção científica. E o aluno, por outro lado, para que possa desenvolver sua criatividade precisa ter acesso a várias correntes teóricos e metodológicos para que desenvolva o seu senso crítico. E, na universidade não tem sido assim. Só tem existido um único viés e esse viés tem influenciado na formação profissional dos alunos. Por isso esse resultado, essa aparência muito forte de militância, porque isso provoca mudanças sociais. Para que resgatamos isso é preciso lutar por uma universidade que tenha um espaço plural onde possa ter, por exemplo, núcleo de pesquisa que trabalhe temas como ciência e fé. Por isso precisamos ter um espaço plural e é por isso que vamos lutar.

- Professora, olhando para suas propostas na carta que a Senhora apresenta à comunidade universitária da Ufpi, a Senhora tem alguma que trabalhe o propósito específico focado na ideologia de gênero em ambiente universitário?

Não. Eu sou uma lutadora contra o movimento de ideologia de gênero nos livros didáticos. Há quase dois anos presto uma assessoria técnica ao Programa Nacional do Livro Didático, sou estudiosa e pesquisadora desde 2015 sobre essa ideologia nos livros didáticos. Mas isso é um trabalho meu como pesquisadora, algo independente. O que temos de trabalhar é no sentido de através da pesquisa dar acesso aos professores em formação, no meu caso, por exemplo, que sou professora, a texto científico que demonstre a existência disso mesmo. Existe uma tendência muito grande a se colocar. O grande problema dessa discussão polarizada político-partidária que divirtua muito o discurso de quem é conservador. Então, por exemplo, não admito como professora, mãe e avó que minha criança, meu filho e neto e o aluno tenham acesso a determinados textos que vão sexualizar e erotizar na idade ainda na primeira infância. E por que luto contra isso? Eu tenho uma formação, sou psico-pedagoga e tenho acesso ao conhecimento na área da psicologia do desenvolvimento, da aprendizagem, e que isso é nocivo à criança. A criança precisa crescer com uma idade social e sexual e, com o tempo, isso não quer dizer que ela quando atingir sua adolescência e idade adulta não faça sua opção. Como é que se divirtua o discurso, é dizendo que falar em ideologia de gênero é um discurso homofóbico, um discurso que é contra o comportamento sexual de outras pessoas que seja contra a heteronormatividade. E isso é uma falácia. Na verdade o que queremos é que a infância seja protegida com relação a esses temas e que, no tempo certo, se discuta a questão do desenvolvimento sexual. No meu projeto, plano de gestão, não existe nada nesse sentido porque é uma coisa muito pontual dentro da formação do professor e é uma discussão que pode ser vista do ponto de vista nacional e que vamos ter uma participação quanto universidade quando for solicitado, quando precisar de um posicionamento. Então, não existe nenhum projeto nesse sentido.

- Professora, como a Ufpi pode contribuir para o desenvolvimento do Piauí?

Ela pode contribuir em tudo. Eu tive a oportunidade quando a ministra Damares esteve aqui, de estar com ela no aeroporto, quando foi a Floriano, e lá encontrei um professor da universidade federal com um projeto de respiradores que está desenvolvendo na Ufpi - e pouca gente sabe disso-, e que pode ser utilizado por mais de quatro pessoas ao mesmo tempo. E esse projeto, ele apresentou para a ministra e para o secretário de Ciência e Tecnologia. E ela ficou de boquiaberta quanto ao potencial piauiense, que é enorme. E eu vivo isso dentro da academia, pois temos pesquisadores maravilhosos e que precisam ser incentivados a pesquisar, a ter condições de apoio estrutural e também, seus processos de solicitações de material para a pesquisa agilizados. Esses processos precisam ser desburocratizados. E o que está acontecendo muitas das vezes, se faz uma pesquisa e é pedido o material para a realização e quando esse material vai chegar essa pesquisa se exauriu, e o tempo acabou para se entregar um resultado. E isso preciso ser cuidado com muito carinho. Temos, sim, um papel importantíssimo dentro do Piauí. Inclusive tenho conversado com algumas pessoas de Brasília a respeito disso. Estive com o secretário de Ação Global do Ministério dos Direitos Humanos, da ministra Damares, com o secretário Alexandre Magno e ele conversava comigo de transformar a Ufpi num centro de referência de direitos humanos. O que é possível através do diálogo é conseguir muita coisa boa para a Ufpi. O que não posso é fechar as portas para o diálogo com o Governo Federal e seria até um egoísmo da minha parte se fizesse isso, por conta de postura político-partidário, porque estaria tirando a chance da universidade federal de receber projetos que são excelentes. Por exemplo, em uma live com um professor da Ufpi com o secretário de Ciência e Tecnologia que está a frente da olimpíada, e ele trabalha com Educação Básica, comentava a respeito da qualidade da internet. Sabemos que o Governo Federal tem um projeto grande para levar a internet de qualidade aos lugares mais longínquos do Brasil. Então, quando falamos de inovação tecnológica sem internet, isso fica inviável. É preciso melhorar a qualidade de internet no interior do Piauí e a universidade federal pode trazer isso, sim. Precisamos trabalhar também a questão da energia limpa e na Ufpi tem os cursos, tem projetos de pesquisa e que podem ser desenvolvidos para que tenhamos acesso a essa energia limpa com custo barateado. A universidade federal tem muito a oferecer e pode ser muito mais do que ela é hoje. Eu e o professor Bruno Diniz acreditamos nisso e temos uma equipe de professores de gabarito que está nos apoiando. Agradecemos o apoio e o voto de confiança deles, de alunos e técnicos e acreditamos que o "Renova Ufpi" veio para renovar isso tudo.

- Qual é o papel da pesquisa em uma universidade pública federal em um dos estados mais carentes do Brasil como o Piauí?

Ela tem um papel fundamental. Tive a oportunidade antes do isolamento de viajar para Bom Jesus e Picos, só não fui a Floriano, mas já conheço. E a ida a essas cidades me trouxe uma visão bem diferenciada a respeito da pesquisa na universidade porque temos exímios pesquisadores nesses Campi fora de sede. Então, precisamos incentivá-los, são professores que se dedicam muito à pesquisa, pesquisas que são em áreas de demandas essenciais a nível regional e local. E isso é muito importante. Nós da gestão precisamos ter essa preocupação de nos aproximar desses pesquisadores, de dar toda infraestrutura que precisam para que executem o trabalho. Temos aí oito anos de uma única gestão e a fazenda universitária de Bom Jesus está praticamente desativada. Lá não tem infraestrutura, não tem água, tem problema de energia, o transporte para os professores pesquisarem só passa uma vez por dia. E por que isso não está na pauta da gestão superior para ser resolvido? São esses problemas que são resolvidos com pouco mais de ações, de priorizar as necessidades desses campi. Então, precisamos trabalhar a partir de um diagnóstico dessas necessidades desses campi nessas cidades e a pesquisa precisa ser incentivada não só aqui, mas também pelo diálogo com o Ministério da Educação, em Brasília, para que sejam ampliadas as vagas de bolsas para pesquisas, que os alunos possam ter acesso através da iniciação científica a mais vagas e possam ser incentivados a trabalhar a pesquisa desde o início de sua formação profissional. Qualquer profissional precisa está constantemente atualizando seus conhecimentos. A pesquisa é essencial pra tudo e, então, precisamos ver essas demandas locais para que sejam melhoradas esse acesso, como laboratórios de ponta. E isso precisa ser feito com parcerias público-privada, pensamos nisso. Pois, o que adiante eu pesquisar e minha pesquisa ficar engavetada, ou então só na prateleira da biblioteca? Precisamos fazer com que ela tenha um efetivo resultado final. Portanto, quando se faz parceria público-privado o que se pretende dizer, é que aquela pesquisa vai ter um resultado de mudança social através da empresa privada que vai colocar em prática aquilo que foi produzido dentro da universidade no campo científico. E isso não quer dizer privatizar a universidade, temos que tirar esse discurso, esse movimento não quer dizer privatização da universidade, ao contrário, a universidade estará muito mais aberta para que a pesquisa efetivamente faça a diferença na sociedade e melhore as condições de vida das pessoas. Em Bom Jesus, as pesquisas precisam melhorar a qualidade de vida das pessoas e podem ser referência para outras universidades públicas do Brasil. Então, no momento que se trabalha pela excelência acadêmica no tripé educação, pesquisa e extensão, obviamente a nossa universidade se tornará um modelo e acredito que esse modelo é possível e vamos trabalhar para que isso aconteça.

- Professora, o custo dos alunos da universidade pública tem se aproximado e até superado o valor das mensalidades das universidades privadas. Sobre esse ponto, o que o Senhor pensa?

Isso é um fato. Precisamos entender que esse custo se dá também no âmbito da gestão. Precisamos trabalhar no âmbito da Ufpi para enxugar essa máquina e também através dessas parcerias público-privada e isso vai ser possível. Precisamos trabalhar de forma que o aluno tenha a melhor qualidade do ensino do que se tem hoje, com custo menor. Então, podemos fazer mais com menos. Para isso é preciso que se tenha um projeto de gestão que se trabalhe com equipe que seja especialista nessa área. Tomando como exemplo o Governo Federal, precisamos ter o nosso Paulo Guedes para trabalhar a parte da economia de forma que a universidade possa gerir esses recursos e melhorar no sentido de que o aluno também possa retornar à universidade. Temos poucos projetos e programas aproveitando os egressos da universidade. Podemos trazer benefícios para a universidade aproveitando esses alunos formados na universidade tanto no âmbito da extensão, da pesquisa quanto do ensino. É preciso que trabalhemos a parte da destinação dos recursos de modo a minimizar esses gastos e possamos melhorar essa relação do custo-benefício.

- Qual seria esse orçamento anual, e se esse orçamento é suficiente ou necessita de incremento? E quais propostas a Senhora tem para incrementar o Hospital Universitário da Ufpi aproveitando esse orçamento em vigor?

Com relação ao orçamento, as informações que temos são as do Portal da Transparência da universidade porque a gestão está em outras mãos e estamos entrando agora. Claro, que no momento que assumimos, e acredito que isso vai acontecer, aí estaremos tomando ciência de como está sendo utilizado esse orçamento. Mas temos visto o nosso reitor atual dizendo que está sobrando dinheiro na Ufpi. Então, precisamos saber se isso está realmente acontecendo e precisamos destinar esses recursos a projetos que tenham relevância dentro do espaço acadêmico. Ao conversar com professores e técnicos do Hospital Universitário, a queixa é muito grande na área da gestão. É preciso que retomemos esse projeto de modo que haja mais celeridade no processo administrativo e que os professores possam estar mais atentos a relação entre hospital e com a formação dos profissionais da área de saúde. Esse diálogo tem sido intrincado com o que temos conversado com a comunidade, mas ciência dos processos que acontecem no Hospital Universitário só vamos ter quando estivermos lá, tomando pé da situação e como tem sido feito essa administração. E também as parcerias que precisamos fazer no âmbito da saúde para que o Hospital Universitário possa se tornar um hospital reconhecidamente de ponta no nosso Estado e possa atender a comunidade como um todo com qualidade e celeridade. Então, não temos esse conhecimento aprofundado porque não estou dentro desse processo ainda e só vamos tomar pé da situação quando estivermos lá.

Por: Lívio Galeno, Najla Fernandes e Luiz Carlos de Oliveira
Mais sobre: