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Descrédito da política deve fazer "œnão voto" crescer nestas eleições

Indeciso, nulos e brancos aparecem com grandes percentuais nas últimas pesquisas do instituto Data AZ.

15/09/2018 08:06

A estimativa é que o crescente descrédito da classe política brasileira com a população seja refletido nas urnas. As últimas consultas estimuladas de intenção de voto, realizadas pelo Instituto Data AZ junto ao eleitorado piauiense, revelam um cenário em que as abstenções, votos nulos e brancos - considerados como “não voto” - ainda representam uma grande parcela dos eleitores no Estado.

De acordo com as últimas pesquisas eleitorais Data AZ, publicadas no Jornal O Dia, 6,80% ainda não decidiram em quem votar para presidente da República e 13,92% não escolheram o candidato ao governo do Estado. Para o Senado, pleito no qual o eleitor vota duas vezes, o índice de indecisão chega a 85,92%.

O universitário Edson Benedito, de 21 anos, se enquadra entre esse eleitorado que ainda não decidiu o voto. “Não vejo nenhum candidato que possa me representar, e além disso estou muito decepcionado com a política, principalmente em relação aos últimos episódios de escândalos”, comenta.


Segundo dados do Google, “como anular meu voto” é a pergunta eleitoral mais buscada até a última semana. Além dela, expressões como “o que acontece se eu não votar”, “como justificar o voto”, “em quem votar em 2018” e “o que é democracia” também são consultadas durante a navegação pelo site.

Já o social media Marcos Vinicius Laranjeira pretende anular o voto como uma maneira de protestar. “Acho que os políticos não conseguem nos representar da maneira como esperamos. Sempre tem algum aspecto que não bate com as mesmas coisas que pensamos, e no final acabamos votando nessas pessoas, trazendo isso junto com ele, seja um vice ou de algum posicionamento, de direita ou esquerda, que vai contra tudo que acreditamos”, afirmou.

Assim como Marcos, há no Piauí uma grande parcela de eleitores que pretendem anular ou votar em branco nas eleições de outubro, como mostram as mais projeções do Data AZ, onde 7,44% pretendem seguir por esse caminho na votação presidencial, 34,72% no pleito dos senadores e 13,60% ao votar para governador.


Segundo dados do Google, “como anular meu voto” é a pergunta eleitoral mais buscada até a última semana


"Eleitor precisa ter interesse nas eleições e não abrir mão de participar" diz professor

Não é difícil vermos eleitores defendendo o voto nulo nas eleições, principalmente entre aqueles que estão insatisfeitos com o cenário político. Acontece que o voto de protesto levantado eles não possibilita o resultado que a maioria planeja: anular a votação. Ao contrário disto, se a mesma quantidade votos nulos for destinada a um candidato, o número interferirá diretamente no resultado final do pleito.

 De acordo com o cientista político Vitor Sandes, da Universidade Federal do Piauí, o eleitor precisa ter interesse pelas eleições e não abrir mão de participar do processo. Quanto mais votos nulos e/ou brancos com o propósito de anular um pleito, menos pessoas teremos para decidir quem estará à frente dos poderes executivo e legislativo a partir do próximo ano. “Alguém vai deci dir a eleição. Por isso, o voto branco e nulo não ajuda. A política necessita de cidadãos interessados”, destaca.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), voto válido é aquele dado diretamente a um determinado candidato ou a um partido e apenas estes contam para a aferição do resultado. Se mais da metade do resultado for de votos brancos ou nulos, a apuração será feita com base no restante dos votos.


Para cientista político,  votos branco e nulo indicam que sistema não está sendo responsivo às demandas (Foto: Jailson Soares/O Dia)

A problemática sobre o assunto ocorre devido a um erro de interpretação. Ainda de acordo com o Tribunal, o art. 224 do Código Eleitoral prevê a necessidade de marcação de nova eleição se a nulidade atingir mais de metade dos votos do país. Mas, a nulidade a que se refere decorre da constatação de fraude, como, por exemplo, eventual cassação de candidato eleito condenado por compra de votos. Se o candidato cassado obteve mais da metade dos votos, será necessária a realização de novas eleições, denominadas suplementares.

“O voto nulo e branco quando é bastante alto é um indicativo de várias questões, como, por exemplo, de que o eleitor não tem clareza das opções, de que não tem muita diferenciação entre os candidatos ou que existe uma quantidade muito grande de candidaturas e o eleitor não tem uma identificação. Mas, no geral, é um indicativo de que o sistema não está sendo responsivo em relação a suas demandas”, pontua Vitor Sandes.

 Candidatos apostam na viabilidade de propostas para atrair eleitores desinteressados

Um dos principais fatores para o alto número de eleitores que não querem participar do pleito ou não sabem em quem votar nestas eleições é a descrença na figura do político brasileiro, o que torna o desafio ainda maior para os candidatos. Para atrair esses votos, eles apostam na conversa direta com os donos dos votos.

Para a candidata a vice-governadora na chapa de Luciano Nunes (PSDB), Cassandra Moraes (DEM), a estratégia de ir para rua e visitar de porta em porta os eleitores piauienses ainda é o meio mais eficaz de conquistar os indecisos.

“Os eleitores estão muito descrentes de política, tristes com os escândalos de corrupção, mas a gente tenta conscientizá-los. É preciso conversar olho no olho e tento fazer o eleitor acreditar nas nossas bandeiras, para que eles sintam confiança em um novo trabalho. Mas há o sentimento de desanimo, que precisamos mudar”, diz Cassandra.


Foto: Agência Brasil

A análise também é compartilhada pelo candidato ao governo Valter Alencar (PSC). Para ele, a quantidade de votos declarados como nulo e/ou branco é reflexo da decepção das políticas públicas não realizadas pelos representantes. Oferecer uma solução viável para os principais problemas da região que vista também é uma das apostas dos juristas.

“Precisamos falar a verdade, ter história e ficha limpas, ter preparo para conduzir o governo com pautas que se cumpram dentro de um plano de governo. Temos que respeitar a máquina para que não sirva de cabide de emprego, por exemplo, e apresentar, também, oportunidades de empregos nos mais diversos setores”, esclarece Valter.

Não votar pode implicar em prejuízos para o cidadão junto ao Poder Público

No Brasil, onde o voto é obrigatório para eleitores entre 18 e 70 anos, o número de pessoas que deixaram de comparecer aos locais de votação no primeiro turno das eleições gerais de 2014 ultrapassou os 27 milhões de eleitores. No mesmo pleito no Piauí, cerca de 443 mil piauienses aptos a exercer o direito deixaram de votar.

A estudante universitária Gabrielle Alcântara, de 21 anos, irá se abster no próximo dia 7 de outubro. “Como estou em uma viagem de intercâmbio, não poderei votar, o que me deixa um pouco triste já que tenho acompanhado o atual cenário brasileiro e gostaria muito de contribuir para mudar a realidade política. Entendo que votar é de extrema importância nesse momento”, comenta.


Falta de quitação eleitoral impede acesso a alguns serviços (Foto: Arquivo O Dia)

Mas é preciso ficar atento às implicações de se ausentar da votação. Alexandre Nogueira, advogado eleitoral, ressalta que a ação de se eximir do processo eleitoral implica em algumas penalidades, que vão desde ao pagamento de multa, no valor de R$ 3,51, até complicações mais sérias com a Justiça Eleitoral.

“A multa é um valor irrisório. Mas a ausência injustificada à urna gera uma pendência da obrigação, e o cidadão pode ficar sem sua certidão de quitação eleitoral, que o impede de emitir passaporte, de assumir concurso público e sem ter a condição de se candidatar em uma eleição, porque todas essas situações requerem a certidão de quitação eleitoral”, explica o advogado.

Por: Breno Cavalcante - Jornal O Dia
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