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Em pouco mais de 1 ano, Marielle apresentou 20 projetos na Câmara

Em seu último discurso no plenário, vereadora do PSOL desabafou ao ser interrompida: 'Vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços'.

16/03/2018 15:53

Cria da favela da Maré, como a própria se definia, Marielle Franco (PSOL) foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) por 10 anos. Na última eleição, decidiu ela própria mergulhar de vez na política. Com mais de 46 mil votos, surpreendendo até mesmo o próprio partido, a socióloga formada na PUC-Rio se elegeu vereadora: a quinta mais bem votada no Rio. Empossada, assumiu a defesa de minorias, como prometido durante a campanha.

Marielle Franco durante sessão na Câmara do Rio em 2017 (Foto: Renan Olaz/Câmara do Rio)

Em pouco mais de um ano, apresentou cerca de 20 projetos de lei. Dois foram aprovados. As propostas de sua autoria que não chegaram à aprovação tratam da elaboração de um dossiê sobre a vitimização feminina, a implementação de uma campanha contra o assédio sexual e o apoio ao desenvolvimento cultural do funk.

Elta também propôs a celebração de datas como a da luta "contra o encarceramento da juventude negra" ou a do enfrentamento contra a homofobia. Os dois projetos que passaram pelo crivo dos outros vereadores e pela sanção do prefeito Marcelo Crivella (PRB) foram assinados em conjunto com colegas:

- Restrição de funções que podem ser exercidas por Organizações Sociais (OSs) em hospitais

- Legalização da profissão de mototaxistas.

Como presidente da Comissão permanente da Defesa da Mulher na Casa, Marielle emitiu parecer favorável a projetos como o de seu correligionário Renato Cinco que "proíbe inquirir sobre a orientação sexual" em empresas públicas ou pivadas. No Dia da Mulher, quando falou pela última vez como parlamentar no plenário da Casa, fez uma homenagem à data e propôs uma reflexão.

Em mandato na Câmara, Marielle Franco defendeu minorias. (Foto: Reprodução)

"O que é ser mulher? O que cada uma de nós já deixou de fazer ou fez com algum nível de dificuldade pela identidade de gênero, pelo fato de ser mulher? A pergunta não é retórica, ela é objetiva, é para refletirmos no dia a dia, no passo a passo de todas as mulheres, no conjunto da maioria da população, como se costuma falar, que infelizmente é sub-representada", disse a vereadora.

Veja todos os projetos apresentados por Marielle:

- Creche noturna gratuita para beneficiar mães que estudam e trabalham à noite

- Campanha permanente de conscientização e enfrentamento ao assédio e violência sexual

- Criação do Dossiê Mulher Carioca, com dados da violência de gênero

- Assistência gratuita para construção e reforma de casas para famílias de baixa renda

- Criação do programa de desenvolvimento cultural do funk

- Fim da renúncia da cobrança de ISS para empresas de ônibus

- Restrição de contratos entre Prefeitura e Organizações Sociais (OSs)

- Prioridade para servidores serem pagos antes do prefeito, vice e secretários

- Programa de efetivação das medidas socioeducativas em meio aberto

- Dia da luta contra a Homofobia no calendário da cidade

- Dia da Visibilidade Lésbica no calendário da cidade

- Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no calendário da cidade

- Dia Municipal de Luta contra o Encarceramento da Juventude Negra

- Ações de combate ao jogo "Baleia Azul"

- Fixação de cartaz informativo sobre violência sexual em locais públicos de atendimento às mulheres

Comissão sobre a Intervenção

Marielle havia sido recém-nomeada, em fevereiro, uma das relatoras na comissão de representação da Câmara Municipal em Brasília para acompanhar a Intervenção Federal na Segurança Pública fluminense. Publicamente, já havia dito que era contra a intervenção porque temia que as ações prejudicassem os mais pobres, moradores das comunidades carentes, já submetidos ao tráfico. Marielle também criticava a falta de uma definição sobre quem iria fiscalizar as ações.

"Nesse período, por exemplo, em que a intervenção federal se concretiza na intervenção militar, eu quero saber como ficam as mães e os familiares das crianças revistadas. Como ficam as médicas que não podem trabalhar nos postos de saúde? Como ficam as mulheres que não têm acesso à cidade?", questionou na última vez que usou microfone do plenário da Câmara dos Vereadores, no dia 8.

Nesta quinta-feira, um dia após sua morte, o novo chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, disse que o crime "atenta contra a democracia". Barbosa disse que era amigo de Marielle, depois que foi apresentado a ela por Marcelo Freixo.

Há uma semana, Marielle discursava em plenário quando foi interrompida por um homem que acompanhava a sessão plenária da tribuna e gritou.

"Tem um senhor que está defendendo a ditadura e falando alguma coisa contrária? É isso? Eu peço que a Presidência da Casa, no caso de maiores manifestações que venham a atrapalhar minha fala, proceda como fazemos quando a galeria interrompe qualquer vereador", rebateu, para pouco depois concluir.

"As mulheres negras, por exemplo, quando passam na rua, ainda ouvem homens que têm a ousadia de falar do quadril largo, das nádegas grandes, do corpo, como se a gente estivesse no período de escravidão. Não estamos, querido! Nós estamos no processo democrático! Vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços".

Freixo homenageia Marielle

O deputado estadual Marcelo Freixo publicou, no seu perfil oficial no Facebook, um texto em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros na noite da última quarta-feira (14).

Freixo e Marielle em imagem que ilustra publicação do parlamentar no Facebook (Foto: Divulgação/Marcelo Freixo)

Na publicação, o parlamentar usa o discurso direto, como se conversasse com ela. Ao longo do texto, ele descreve a maneira como se emocionou ao ver o nome da amiga nos cartazes e vozes das pessoas que, na quinta-feira (15), participaram das manifestações em memória da vereadora na Cinelândia.

Ainda na publicação, ele garante que a voz de Marielle não será calada.

Texto original:

"Minha irmã amiga de tantas lutas, de tantos risos, sonhos, choros e abraços. Que saudade vou sentir de você. Corta o peito! Como foi difícil e bonito ver seu nome nos cartazes e vozes de tantos jovens nas ruas do Rio. Nas mesmas ruas que andamos juntos, hoje vi uma multidão chorar e transformar você num símbolo de tudo que você foi. Foi não! É!

Mari. Como eu queria que você estivesse comigo hoje na Alerj e na Cinelândia. Você sempre esteve ali comigo. Foi a primeira vez que fui sem você. Não é que você estava lá!? Estava nos sonhos de toda uma geração! Que coisa bonita, amiga. Quanto orgulho sinto de você! Você sabe!

Seu nome estava em todos os lugares do mundo! Lembrei das inúmeras reuniões que fizemos com o povo da comissão, dos casos que atendemos, das visitas nas prisões e nas conversas nas favelas. Seus olhos sempre brilharam. Hoje, vi que aquilo tudo que você fez virou referência no mundo.

Nenhum covarde vai te calar. Seu sorriso, seu abraço e teu amor vou carregar para sempre. Muito obrigado por tudo.

Hoje fui forte, como sempre combinamos. Agora, em casa, desabo. Você foi uma das melhores coisas que tive na vida.

Vou ficar perto da sua família. Te prometo.

Fique em paz.

Amo você!"

Fonte: G1
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