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Gestão Bolsonaro propõe novo 'toma lá, dá cá' na política brasileira

Após escolher 22 ministros ancorados nas chamadas bancadas temáticas, presidente eleito não conseguiu impedir negociações no varejo para indicações ao segundo e terceiro escalões.

16/12/2018 08:58

Antes de encerrar uma discussão acalorada na semana passada, Leonardo Quintão (MDB-MG), um dos principais articuladores políticos do novo governo, puxou Levy Fidélix (PRTB) pelo braço e o conduziu até debaixo de uma árvore.

Estavam no estacionamento do prédio que abriga a sede do governo de transição, em Brasília, e se afastaram dos assessores para terminar a conversa reservadamente.

Sob gestos enfáticos do presidente da sigla que indicou o vice de Jair Bolsonaro, Quintão pediu calma a Fidélix e disse que as coisas se resolveriam logo para o PRTB.

O pai do aerotrem, que tem reclamado publicamente da falta de espaço na nova gestão, é a alegoria perfeita do "toma lá, da cá" inaugurado pelo governo de Jair Bolsonaro.

Após escolher 22 ministros ancorados nas chamadas bancadas temáticas do Congresso, o presidente eleito não conseguiu impedir negociações no varejo para indicações ao segundo e terceiro escalões.

Nomeado por Onyx Lorenzoni (Casa Civil) para fazer parte da articulação política, Quintão montou gabinete e implementou um novo formato de "toma lá, dá cá", que dispensa as tratativas diretas com presidentes e líderes dos partidos e negocia individualmente com os parlamentares.

A estratégia de Onyx e seus aliados é oferecer cargos nos Estados aos deputados avulsos, vendendo a ideia de que, assim, eles se tornarão uma forte liderança regional.

O objetivo é criar um canal direto com os parlamentares e tentar fragmentar o poder dos líderes de bancada -até aqui, fundamentais para a governabilidade no presidencialismo de coalizão.

Nos últimos dias, o time da futura Casa Civil -formado por deputados do baixo clero que não conseguiram se reeleger para um novo mandato- tem conversado com integrantes de diversas legendas e seduzido, principalmente, nomes do PSD e do PR.

Juntas, essas bancadas terão 67 deputados a partir de 2019.

O ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, por exemplo, lidera o PR para tentar manter influência no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), responsável pelo setor ferroviário.

As tratativas com o futuro ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, estão avançadas e o PR já sinalizou que quer abocanhar também a vice-presidência da Caixa, indicando o deputado Milton Monti (SP) para o posto.

Na outra ponta, o PSD, de Gilberto Kassab, foi abordado pelos articuladores do presidente eleito para que deixasse o bloco formado na Câmara por siglas do centrão, com o objetivo de isolar o PT e o PSL.

A proposta era que o partido de Bolsonaro apoiasse um nome do PSD para a liderança do governo na Casa. Onyx e Quintão foram os principais interlocutores dessas conversas.

Além dele, Danilo Forte (PSDB), Alberto Fraga (DEM), Ronaldo Nogueira (PTB) e Carlos Manato (PSL) formam a linha de frente da tropa que tem atuado para costurar a base de apoio para Bolsonaro.

A partir de 1º de janeiro, eles querem alocar uma sala no Congresso para ser QG da articulação do novo governo.

Manato afirmou à reportagem que ele e Quintão inclusive já acertaram com o presidente eleito que começarão a trabalhar oficialmente logo após a posse, mas não renunciarão ao resto de seus mandatos, que só terminam em 31 de janeiro.

O salário na Câmara é de R$ 33,7 mil e o cargo que ocuparão no Executivo deve pagar algo em torno de R$ 16 mil.

Para driblar a diferença nos vencimentos, deputados derrotados nas urnas já pressionam o novo governo para conseguir participação em conselhos de administração pública que remuneram seus participantes.

Segundo a assessoria do próprio presidente eleito, nas últimas semanas ele e sua equipe receberam cerca de 300 parlamentares, com reuniões formais com as bancadas de PSL, PP, MDB, PR, PRB, DEM, PSDB, PSD e Podemos.

Siglas como PP e MDB tiveram alguns de seus parlamentares abordados individualmente, mas o comando das legendas diz que vai esperar o modelo "dar errado logo na primeira votação".

Em conversa com alguns aliados, o presidente Michel Temer fez um prognóstico: nomear deputados sem mandato para negociar cargos e emendas não tem chance de dar certo.

Fonte: Folhapress
Por: Marina Dias, Ranier Bragon e Camila Mattoso
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