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"Participamos sabendo que é um processo antidemocrático", diz Luciane

A candidata falou também qual será a estratégia do partido após o pleito, que tem este ano a cláusula de barreiras

09/09/2018 09:10

Defendendo uma revolução da classe trabalhadora, a candidata ao governo do estado pelo PSTU, Luciane Santos, afirma que somente com os trabalhadores organizados e nas ruas será possível instaurar um governo de fato democrático, através dos conselhos populares. Em entrevista exclusiva ao Jornal O DIA, a professora criticou ações dos atuais representantes políticos do Estado e o processo eleitoral. A candidata falou também qual será a estratégia do partido após o pleito, que tem este ano a cláusula de barreiras: “um conjunto de medidas que, na prática, tenta colocar partidos como o PSTU na clandestinidade”. Luciane Santos apresentou ainda suas propostas para a educação básica, valorização da Uespi, saúde e geração de emprego e renda no Estado.

A participação do PSTU nas eleições é quase uma tradição, no entanto, o partido nunca conseguiu sucesso nos pleitos. Qual é a avaliação que a senhora, enquanto candidata e militante, faz desse cenário?

O projeto estratégico do PSTU, de defender mudanças radicais na sociedade, para que a classe trabalhadora de fato governe, e passe a ter direitos que há séculos são negados para a grande maioria do povo, não virá através das eleições. Como partido que defende uma saída revolucionária para a classe trabalhadora, o PSTU participa das eleições para apresentar um programa de governo que mostre as medidas necessárias para atendimento das demandas relativas ao direito ao emprego, com salários decentes, moradia, saúde, saneamento, educação, cultura. Um dos problemas que enfrentamos no processo eleitoral, no entanto, é o pouco espaço nos programas eleitorais.

Seu partido tem um dos menores espaços no horário eleitoral no rádio e na TV. Até que ponto isso prejudica as candidaturas do PSTU, se considerarmos que essa ainda é uma das principais formas de contato com o eleitor?

Nossa candidata a presidência, Vera Lúcia, tem apenas três segundos no horário eleitoral. Ela também não foi chamada para a bancada do Jornal Nacional e nem para os debates entre presidenciáveis. Essa é a “democracia” que temos, de faz de conta. Esta desigualdade traz um grande prejuízo nacionalmente, e também na realidade local. Aqui no Piauí temos apenas cinco segundos. Uma vez que parte considerável da população tem na TV e no rádio a forma de conhecer as propostas dos partidos, é fácil denunciar que se trata de um jogo nada democrático. Mesmo assim usamos este pouco tempo que temos para fazer um chamado à rebelião, dizendo que as eleições não mudam a vida.

Você defende uma rebelião da classe trabalhadora e uma revolução socialista, no entanto, o PSTU, historicamente, não participa de coligações. Essa proposta de rebelião não seria facilitada com a formação de uma ampla frente de esquerda?

Infelizmente, o programa que o PSOL defende não faz avançar a luta da classe trabalhadora, porque está nos marcos do gerenciamento do capitalismo. O PSOL traça um caminho que já foi trilhado pelo PT, se mostrando cada vez mais palatável aos grandes grupos econômicos. Isso reflete a própria composição social dos principais quadros do partido. No Piauí, por exemplo, o candidato do PSOL ao senado, Jesus Rodrigues, é um grande industrial e sócio de grande empresa da área da saúde. Não acreditamos em conciliação de classes. Ou se governa para os trabalhadores ou para os patrões. Por isso não temos acordo eleitoral com o PSOL. Mas a defesa de uma rebelião, de uma revolução socialista não se limita ao período eleitoral. Após o dia 7 de outubro, os problemas do povo pobre e da classe trabalhadora continuarão existindo e será preciso continuar o chamado para a luta unitária de todos aqueles e aquelas que estiverem dispostos ir para as ruas em defesa de direitos, contra a reforma previdenciária e contra as leis que retiram direitos, como a reforma trabalhista e a lei das terceirizações. O voto no PSTU é um voto de rebelião. Mas a rebelião pra valer não cabe nas urnas. O sentido do que defendemos se expressa nas lutas que já estão acontecendo nas ocupações de sem-teto, na resistência do povo negro quilombola e indígena que enfrenta o agronegócio e os latifundiários, na luta dos sem-terra, nas greves de trabalhadores terceirizados, na luta da juventude em defesa da educação, nas mobilizações das mulheres e LGBTs contra o machismo, o feminicídio e a lgbtfobia. E também no que foi expresso na última greve geral de trabalhadores e na greve dos caminhoneiros.

Nesse sentido, qual a relevância das eleições e do voto, efetivamente, para a proposta de rebelião que os candidatos do PSTU propõem em seus discursos?

Participamos das eleições hoje, mesmo sabendo que é um processo antidemocrático e onde o poder econômico das grandes empresas é que definem quem são os eleitos. Nossas candidaturas não são convidadas para debates na TV e no rádio, e não temos e nem queremos dinheiro de empresas e empresários em nossas campanhas. Também não fazemos parte de qualquer esquema de corrupção nos governos. E quando não estamos no período eleitoral, muito raramente temos espaço na mídia, e quase nunca somos convidados para entrevistas. Tudo isso faz da disputa eleitoral um verdadeiro jogo de cartas marcadas. Dito isso, é possível que, em um determinado contexto histórico, chamemos um boicote às eleições. As ruas é que devem falar mais alto. Os trabalhadores organizados e nas ruas podem, sim, instaurar um governo de fato democrático, da classe trabalhadora, através dos conselhos populares. Mas enquanto este momento não se concretiza, todo e qualquer voto que conquistarmos na eleição é importante para fortalecer nosso projeto socialista.

Segundo o TRE-PI, o PSTU tinha 272 filiados em 2017 em todo o Piauí, mas em 2018 o número caiu para 221. O que o partido faz para atrair mais correligionários?

O número de filiações internas é bem maior que isso. São muitos os que se filiam, mas preferem não ter o nome divulgado na lista pública da justiça eleitoral. Queremos atrair mais filiados e também mais militantes, que são os que realmente mandam na vida do partido. Não temos e nem queremos empresários em nossos quadros. Estamos totalmente abertos para a chegada de operários e operárias, trabalhadores e trabalhadoras em geral, negros e negras, LGBTs, estudantes e desempregados. Não prometemos nenhuma vantagem financeira ou regalia a quem aceitar o convite para ingressar no partido. O que temos a oferecer é uma ferramenta classista e socialista para podermos construir um mundo novo, socialista, onde a classe trabalhadora possa usufruir das riquezas que produz, em um mundo sem exploração e sem opressões do racismo, machismo e lgbtfobia.

A entrevista completa você confere na edição deste fim de semana do Jornal ODIA

Por: Ithyara Borges
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