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"œDemocracia participativa é o caminho para governar", defende Suelí

Candidata ao governo faz crítica ao modelo atual de educação, segurança e defende que a aplicação do orçamento público seja feita com a presença da população nas discussões

19/08/2018 16:42

Continuando com a série de entrevista aos candidatos ao governo do Estado do Piauí, O DIA conversou com a professora Suelí Rodrigues, do PSOL. Ela concentra o discurso na crítica ao que chama de “crise da democracia representativa” e aponta o caminho da “democracia participativa” para, segundo ela, governar o Estado sem ser refém da Assembleia Legislativa do Piauí. Atuante na defesa dos direitos humanos enquanto pesquisadora da Universidade Federal do Piauí, a candidata faz crítica ao modelo atual de educação, segurança e defende que a aplicação do orçamento público seja feita com a presença da população nas discussões sobre onde e de que forma o dinheiro precisa ser aplicado. Suelí Rodrigues também diz que um dos objetivos principais de sua campanha é defender a “esquerda” brasileira.

A senhora é uma professora com forte atuação na área de Direitos Humanos. Como essa experiência vai ajudar na campanha e o que leva a senhora a enfrentar este desafio de concorrer ao governo do Estado?

Eu coordeno cursos de extensão na área da violação dos direitos humanos. Eu ainda não pensei se essa experiência pode ajudar, mas ela faz parte da minha história de vida, que é uma história de vida comprometida com os direitos humanos, denunciar a violação de direitos humanos, essa minha atuação como professora, onde a gente através de atividades de extensão nós damos assessoria jurídica gratuita às comunidades, por exemplo, atuamos no caso da Transnordestina, onde demos apoio aos quilombolas que foram expulsos das terras e tiveram indenização de até R$ 5 reais, e a gente começou a fazer assessoria para eles e elas ainda no processo judicial, discutindo com elas quais os direitos, garantias, como atuar institucionalmente. Fizemos uma representação ao Ministério Público e abriu-se um inquérito civil publico. Depois que terminou meu projeto, um grupo de ex-alunos criou o coletivo Antônia Flor e eles continuaram fazendo assessoria e hoje temos uma ação judicial com sentença mandando fazer a indenização devida para aquelas pessoas que foram violadas no direito de posse e propriedade da terra. Então, é um capítulo da minha vida e não pensei em que nisso pode resultar e nem entrei na política pra isso. O meu retorno a política partidária, eu me distanciei de partido em 2001, do PT, e achava que já tinha cumprido a pauta, mas voltei por conta da crise, há todo um poder midiático demonizando a esquerda, como se toda a esquerda fosse o PT, e, enfim, num processo visceral para destruir imagens de esquerda. O meu retorno foi em função disso.

Para mostrar que a esquerda não se resume a figuras como o Lula?

Mais do que isso, foi para colaborar, contribuir. No Sentido de informar e educar a sociedade para compreender que, se a gente tem direito social e coletivo, esses direitos foram conquistas das ideias e lutas de partidos de esquerda. Outro dia, alguém falou que foi o Getúlio Vargas, gente, antes do Getúlio Vargas criar a CLT, já havia movimento operário no Brasil, as mulheres tecelãs fizeram manifestações em 1909, com ideias baseadas em políticas de esquerda, em Marx. Isso que demonizado hoje, inclusive as pessoas que dizem que isso não presta, deveria abrir mão dos direitos trabalhistas. Se a gente tem 44 horas de carga horária de trabalho, carteira assinada, aposentadoria, férias, 13º salário, todas essas conquistas e direitos foram criados, fomentados, instituídos por políticas de esquerda. A minha função na política é neste sentido, de fortalecer e defender a esquerda e dizer: tem muita coisa errada na política, mas não é a política de esquerda. E onde tem problema com o PT é exatamente no momento em que o PT tendeu para direita.

O PSOL tem candidaturas a vários cargos, mas não possui uma grande presença no legislativo brasileiro. Como a senhora observa esse movimento de lançar candidato ao governo, mas não ter apoio das principais forças políticas no Congresso? Como comandar o Estado desse jeito?

O diagnóstico que o PSOL tem feito, inclusive insistiu que o PT fizesse isso para combater o golpe, é que o ocidente inteiro vive uma crise da democracia representativa, e no Brasil, em especial. Basta você ver qualquer fotografia do Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas do Piauí, Camâras Municipais, elas não representam a população brasileira. E o fato de não serem representativas, as pessoas que se elegem eles não se sentem comprometidos com as demandas da população. E a população vive dizendo: esse não me representa. Isso é uma crise grave da democracia representativa. Isso que você me perguntou é um aspecto grave da crise representativa. Qual é nossa proposta, do PSOL, tá na proposta do Boulos e Sônia Guajajara, a própria chapa presidencial do PSOL tem essa representativa. Nosso plano é valorizar outra democracia que, inclusive, é direito constitucional, é a democracia participativa. Imagina se o PT tivesse respeitado minimamente os movimentos sociais, se tivesse ouvido os movimentos, se não tivesse feito a política nefasta de cooptação de aliados, o que teria acontecido: as ruas teriam sido ocupadas e o Congresso não ia ter coragem de fazer o que fez. Por que o Congresso, as Assembleia Legislativas agem do jeito que agem? Está bem aí o PT no terceiro mandato de governo do Piauí e não tem oposição, isso é péssimo para a democracia. Você não tem força para fazer controle. E se tivéssemos uma democracia representativa, uma população nas ruas, se o PT tivesse cultuado a consulta popular, o plebiscito, que é uma garantia constitucional. Então, a gente espera reformas, por exemplo, a gente fica falando das medidas do Temer, mas o Wellington Dias já fez várias medidas. Tem a PEC do Congelamento de Gastos que aqui no Piauí já foi aprovado, a PEC da Morte. Aprovou na surdina, sem ninguém dizer nada. O PSOL assumindo, não tendo maioria no Congresso, vamos fazer democracia participativa, referendo popular para aprovar medidas, porque ficar refém da Assembleia Legislativa? Vamos chamar a população e ela se sentir envolvida. As propostas estruturantes da nossa campanha são essas. A nossa Constituição de PSOL é uma relação de partido e movimento social.

Como a senhora percebe este desafio de concorrer numa campanha majoritária estadual, no caso candidata a governadora, sem ter grandes estruturas partidárias, financeiras, de propaganda. Enquanto partidos maiores possuem todas essas estruturas?

Isso serve para a gente denunciar, que a democracia representativa é uma farsa. Uma TV fez um debate e escolheu para participar apenas candidatos que a legislação diz que são obrigatório, que são os candidatos de partidos que têm representação no Congresso Nacional. Isso é um absurdo. Isso é uma farsa. Não existe só poucos candidatos. Inclusive tem duas candidatas mulheres de partidos que não tem representatividade no Congresso e duas de esquerda. A população nem fica sabendo porque o tempo de campanha eleitoral é mínimo, onde você tem mais possibilidade, que é espaço de debates, é nefasto, os candidatos não são convidados. Isso não pode ser chamado de democracia. Chame isso de política elitista, conservadora, para conservar todo tempo os grupos políticos onde estão. Isso expressa a cara da democracia que vivemos, que é uma farsa. A própria legislação é aprovada para quem quer continuar no poder. Por isso não tem renovação. É bom lembrar que, quando aparece um candidato se dizendo novo, é apenas a idade. Inclusive tem candidato que diz que é novo mas tem o mesmo nome do pai, político tradicional. Isso não é novidade.

A entrevista completa você confere na edição do Jornal O DIA desta segunda-feira (20)

Por: João Magalhães
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