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Evento desmistifica o câncer e mostra que há esperança no diagnóstico

A iniciativa 'Troque o Medo por Esperança' partiu da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e leva informação à população sobre prevenção e tratamento da doença.

25/11/2018 11:16

“Eu, particularmente, nunca encarei o câncer como algo negativo, com o peso da palavra. Porque câncer é uma palavra muito pesada e eu acho, realmente, que ele tem sim todas as possibilidades de cura. Você busca a qualidade de vida, tem a esperança de que você possa ter uma vida nova”. A frase é da professora Vanessa Alves, paciente oncológica, diagnosticada em 2009 com câncer de mama e câncer linfático e resume bem o nome da campanha nacional de prevenção e combate da doença: Troque o Medo por Esperança.


Há 10 anos, Vanessa Alves foi diagnosticada com câncer de mama e câncer linfático (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

A iniciativa partiu da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica que, em parceria com órgãos da Saúde e profissionais da área, fazem esse trabalho de levar à população informação credível e esclarecimento de modo a desmistificar o câncer e tirar um pouco do estigma negativo que a palavra conota. Em Teresina, o evento aconteceu durante toda a manhã deste domingo (25), na praça do 25 BC, contando com a participação da Fundação Municipal de Saúde, do Hemopi, e de hospitais e clínicas especializadas no tratamento de pacientes oncológicos.

Coordenador da iniciativa na Capital, o médico oncologista Sabás Vieira explica que a principal preocupação dos profissionais é a prevenção contra o câncer. De acordo com ele, a doença já é a principal causa de morte em mais de 500 brasileiras e esse dado reflete a necessidade de se discutir políticas de enfrentamento à doença. A maneira mais eficaz de atuar, segundo Sabás, é justamente esclarecendo a população sobre a importância de cuidar de si mesmo, do corpo e da mente.

“É um evento voltado para estimular as pessoas a terem uma vida mais saudável, praticar atividade física, não fumar, não beber, fazer sexo seguro, se alimentar corretamente, porque a gente sabe o impacto que uma alimentação saudável tem na diminuição da incidência do câncer e não só dele, mas de uma série de doenças crônicas como diabetes e pressão alta. Nós pedimos que as pessoas se movimentem e busquem viver melhor para poder viver mais”, diz Sabás.


O médico Sabás Vieira é coordenador do projeto Troque o Medo por Esperança em Teresina (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

É justamente isso que Vanessa vem fazendo nos últimos 10 anos. A professora conta que, após ser diagnosticada com câncer, foi acometida pelo medo inicial, mas que conseguiu ressignificar a situação e enxergar nela uma possibilidade de rever seus hábitos. “Mesmo tendo este estigma de morte, o câncer me fez enxergar a vida de uma maneira nova. Eu pude rever meus atos, rever a forma como eu vivia antes em termos de alimentação, de atividade física e eu acho que isso é que tem que ser mostrado. Fazer o alerta para as pessoas de que o medo não leva a lugar algum e que a esperança, essa sim, te dar forças todo dia pra você enfrentar tudo”, disse a professora.

O evento Troque o Medo por Esperança iniciou, em Teresina, com um passeio ciclístico de 14 Km pelo Centro da cidade. Após a volta, os participantes se reuniram na praça do 25 BC para uma série de atividades que incluíram distribuição de folders com informações, venda de produtos saudáveis e dicas de como levar uma vida saudável, mesmo com a doença, além de esclarecer fatos importantes sobre a prevenção e o tratamento.

Quem também esteve presente no evento foi o Hempoi (Centro de Hematologia do Piauí), por meio da equipe da equipe de captação de doadores do Hemopi, justamente para conscientizar a população da importância de doar sangue e medula óssea regularmente. De acordo com Susane Rocha, supervisora de captação de doadores de medula, no final do ano, o Hemopi registra uma queda de até 30% no número de doações. Daí a necessidade de se intensificar as campanhas.

“Nosso trabalho é falar da importância de você ser um doador de sangue e de medula óssea, porque as pessoas ainda têm um certo receio de doar. A gente precisa esclarecer e desmistificar o processo de coleta de medula para que as pessoas se cadastrem, doem regularmente e possam ajudar a salvar vidas”, explicou Susane.


Susane Rocha, do Hemopi, fala da importância de doar sangue regularmente (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Assessoria jurídica

O paciente diagnosticado com câncer deve ter seu tratamento todo garantido e custeado pelo SUS, inclusive passagens e estadia, caso precise deixar seu domicílio e buscar ajuda médica em outra cidade. Este é um direito fundamental que muitas pessoas desconhecem e essa falta de informação acaba, às vezes, por retardar o início da luta contra a doença. Foi pensando nisso, que o evento Troque o Medo por Esperança contou também com a participação de equipes jurídicas, de modo a esclarecer as pessoas sobre as garantias dadas pela lei aos pacientes oncológicos.

Integrando a iniciativa, a advogada Adriana Carvalho explica que no Brasil, como um tudo, ainda é bastante comum a judicialização do tratamento contra o câncer, mesmo ele sendo uma garantia constitucional. A profissional afirma que o caso mais de comum de ser registrado é o de demora na entrega de medicamentos.


A advogada Adriana Carvalho explicou sobre os direitos fundamentais do pacientes oncológicos (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

“Algumas pessoas precisam de medicação cara que só é custeada pelo SUS, mas às vezes, por questões políticas municipais, estaduais ou até mesmo federais, acontece dessa medicação não vir no tempo adequado, no momento certo. É um entrave do poder público que acaba por causar mais um transtorno à vida do paciente, que já está lutando para viver. Nossa missão, então, é informar a sociedade de que, independentemente de quem seja, o paciente tem o direito de exigir do governo um tratamento a contento”, diz a advogada.

O evento

O evento Troque o Medo por Esperança acontece simultaneamente nas principais capitais do país, nesta sua segunda edição, e a previsão é que a amplitude da iniciativa aumente nos próximos anos. “O câncer tem prevenção, tem tratamento e tem cura. Nós estamos reunidos para mostrar isso para as pessoas e dizer que os profissionais habilitados e órgãos competentes podem sim dar toda a assistência ao paciente, mas que precisa partir dele também a iniciativa, com a esperança de que uma doença não é o fim da linha. Ela é só um recomeço”, finaliza Sabás Vieira.

Por: Maria Clara Estrêla
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