Dia das Mães, em 2003,
quando dona Tânia Maria
Oliveira escutou a voz do
filho pela última vez. O
acidente doméstico que
viria a transformar a vida
da família por completo,
após um choque em um
ferro elétrico, deixou o
filho da dona de casa,
Tiego Ferreira, hoje, com
27 anos, em estado vegetativo.
As discussões a
respeito da continuação
da vida de pessoas em
estado de total dependência
já dividiram opiniões
no mundo todo.
Ações médicas como a
eutanasia, ortotanasia e
distanasia, seguem sendo
interpretadas e aceitas de
maneiras diferentes no
mundo.
Para Tânia Maria, cuidar
do filho é uma missão que
não abriria mão por nada
no mundo, mesmo com a
atual dependência. “Eu sei
que ele é dependente, mas
cuido dele com todo o amor
que eu tenho na minha
vida. Ele dificilmente
adoece, não tem feridas na
pele. Ele é meu filho, eu o
amo. Aprendemos a conviver
com tudo, o tempo é
o melhor remédio”, afirma
a mãe.
Foto: Jailson Soares/ODIA
A atual condição de
saúde de Tiego se deu após
três paradas cardiorrespiratórias,
após o rapaz
usar um ferro elétrico com
o corpo molhado. Na época,
o jovem ficou internado na
Unidade de Terapia Intensiva
por 19 dias, mas os
dados, segundo os médicos,
já eram irreversíveis.
Tiego vive em estado vegetativo,
apenas mantendo
reflexos primários, mas só
se alimenta e faz as necessidades
básicas através de
sondas ligadas ao corpo.
O estado vegetativo
persistente, em geral, é
quando apenas a parte
“automática” de funcionamento
do cérebro se
mantém em atuação. O
indivíduo mantém reações
básicas como reflexos,
sucção, ou reação de acompanhamento
com olhar. As
funções voluntárias são
totalmente perdidas.
“Eu tive que ver meu
filho virar homem em cima
de uma cama. Ele só tinha
15 anos, estava prestes
a fazer 16, quando tudo
aconteceu. Só Deus para
dar forças, porque ainda
tenho fé na melhora dele”,
reforça emocionada, Tânia.
Mãe e filho fizeram
acompanhamento, durante
seis anos, mensalmente,
no Centro de Reabilitação
Sarah Kubitschek, em
São Luis, no Maranhão.
Enquanto Tânia aprendia
como cuidar do filho,
Tiego conseguiu alcançar
pequenas evoluções, já que
no início, até o simples ato
de fechar o olho era difícil.
É acompanhando as
menores evoluções, que a
mãe busca se fortalecer.
“Eu aprendi como cuidar
dele. Hoje, me sinto preparada
para tudo na vida.
Mas vi uma notícia há
um tempo de um homem,
que depois de 20 anos em
estado vegetativo chamou
pela mãe dele, a única
pessoa que continuou do
seu lado. Eu tenho fé que
um dia vai ser o Tiego.
Nesse dia, eu não sei o
que vou fazer”.
Como não depende de
aparelhos, Tiego não mais
precisa frequentar médicos
com assiduidade. Sua
situação segue estável.
Todos os dias, a luta tanto
do filho quanto da mãe, é
pela vida.
Casos no mundo
O francês Vincent Lambert,
que em 2008 teve
lesão cerebral irreversível,
foi um dos casos que reacendeu,
recentemente, o
debate sobre a eutanásia
no mundo. A eutanásia é a
conduta médica pela qual
se aplica um procedimento
clínico para a morte rápida
e sem dor de um paciente
em estado terminal, ou
portador de enfermidade
incurável que esteja em
sofrimento constante.
Sobrevivendo por aparelhos,
Vicent, segundo a
esposa, já havia exposto
o desejo de não continuar
a viver caso o seu estado
causasse total dependência.
A esposa lutava
na Justiça para ser autorizado
o procedimento. Na
início de junho, a Corte
Europeia de Direitos
Humanos (CEDH), em
Estrasburgo, decidiu
aceitar o pedido da esposa
de praticar a eutanásia
no paciente.
A americana Brittany
Maynard também sensibilizou
o mundo quando, em
2014, optou por realizar
suicídio assistido. Ao se
descobrir com a doença
terminal, a californiana
decidiu se mudar de São
Francisco para o Oregon,
porque esse estado norte-americano
permite o suicídio
assistido para pacientes terminais.
Brittany faleceu em
novembro de 2014.
Por: Glenda Uchôa / Jornal O Dia