Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Menores de 15 anos são vítimas de mal do Século XIX

Patologias como hanseníase e tuberculose estão relacionadas à pobreza e à desigualdade social.

17/02/2018 09:05

Falta de renda, saneamento, água e educação são fatores determinantes para a permanência de doenças que eram comuns no Século 19, como a hanseníase e a tuberculose - patologias relacionadas à pobreza e à desigualdade social. Apesar de serem enfermidades antigas, elas ainda circulam em todo o mundo, atingindo milhares de pessoas, principalmente crianças e adolescentes menores de 15 anos.

É o que aponta um levantamento feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), no qual dos 30 mil novos casos diagnosticados por ano no Brasil, 6% acometem crianças e adolescentes. No mundo, mais de 200 mil pessoas são diagnosticadas com a doença todos os anos.

Em Teresina, apesar da quantidade de casos ter reduzido nos últimos anos - sendo 400 em 2015, 380 em 2016 e 384 em 2017, a incidência de casos em menores de 15 anos aumentou de 28 em 2016 para 32 em 2017, o que tem chamado a atenção das autoridades de Saúde. Dados da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (Sesapi) registraram 935 casos de hanseníase em 2017, representando um aumento em relação a 2016, quando foram notificados 911. O levantamento demonstra ainda que, aproximadamente, 67,5% dos casos (631) foram notificados já em estágio transmissível.

Carlos Gilvan Nunes, infectologista da Fundação Municipal de Saúde (FMS), destaca que Teresina encontra-se em uma área de endemicidade sobre menores de 15 anos para a hanseníase, o que deixa a Capital em estado de alerta. “O questionamento que fazemos é: será se esses dados não precisam ser mais trabalhados e descobri mais casos que estão ocultos? Se temos muitos casos em menores de 15 anos é porque há pessoas nessas casas que não descobriram a doença, como o pai, a mãe ou até um irmão”, frisa.

Sintomas

Segundo o infectologista, o sintoma prioritário e o próprio diagnóstico acabam sendo possíveis através da avaliação médica. O exame dermopneumológico (pele e neurológico) avalia as áreas atingidas, principalmente os nervos, que causam inflamação, podem gerar deformidades e a perda de sensibilidade daquela área. Lesões dermatológicas, como manchas sem cor ou de outras colorações, também podem ser sintomas, principalmente se vierem acompanhadas da falta de sensibilidade ou dormência.

“O paciente sofre uma queimadura e não sente o queimar no local. O diagnóstico deve ser feito por um profissional e o tratamento é totalmente gratuito, sendo uma dose mensal supervisionada pelo agente de saúde e o restante da cartela para completar o mês. O tratamento pode variar de seis a doze meses, dependendo da classificação e a quantidade de lesões desse paciente”, fala Carlos Gilvan Nunes.

Abandono versus tratamento

De acordo com o infectologista Carlos Gilvan Nunes, Teresina teve uma readequação em termos de unificação dos programas de tuberculose e hanseníase, no Núcleo de Doenças Negligenciadas. As doenças recebem essa denominação da OMS por ainda não terem sido controladas e eliminadas.

A expectativa da OMS é que, até o ano de 2035, o programa elimine a doença, mediante planejamento e estratégias de combate. Contudo, o médico destaca que essa não é uma tarefa simples, vez que as enfermidades têm uma relação direta com a pobreza e a desigualdade social.

O professor e médico Viriato Campelo, coordenador do Programa de Mestrado Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí, conta que a Capital é prioritária para o tratamento de hanseníase, devido ao aumento crescente nos últimos anos.


Viriato Campelo diz que a indústria não investe em pesquisas (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Segundo ele, para erradicar as doenças, é preciso investir em medicamentos, contudo essas são enfermidades negligenciadas pela indústria farmacêutica, que não investe em pesquisa, vez que a medicação é adquirida pelo governo e distribuída gratuitamente. “Eles não têm interesse em gastar suas experiências e fazer um medicamento apenas para o governo comprar, que compra mais barato. Enquanto isso, essas pessoas são excluídas de todos, até de seus familiares em fundos de quintal, porque acham que a transmissão acontece por usar o mesmo copo ou prato”, frisa.

O médico Viriato Campelo se emociona ao lembrar de casos de pessoas com hanseníase que foram abandonadas ou morreram de forma desumana. "Ao longo da minha experiência profissional, eu visitei uma colônia de hansenianos e é sub -humano. As pessoas perdem os braços, pernas, dedos, ficam cegos. Isso me emociona, porque todo mundo isola aquelas pessoas e elas morrem de uma forma degradante. O abandono é uma das piores coisas que você pode fazer por um paciente”, lamenta.

Por: Isabela Lopes - Jornal O Dia
Mais sobre: