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Pouco conhecido, câncer de cabeça e pescoço provoca isolamento social

Por conta da doença, muitos pacientes perdem a voz ou partes da face e isso afeta a autoestima e a forma como eles se relacionam em sociedade.

20/03/2019 06:46

O câncer de cabeça e pescoço ainda é uma patologia pouco conhecida e que demanda maior debate na sociedade, já que a informação é também uma forma de proporcionar um tratamento mais eficaz. Atuando nessa frente, a Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG) não tem como foco o trabalho assistencial, mas realiza o projeto “Laringe Eletrônica: Uma Voz Possível”. E ontem (19), a entidade entregou 10 aparelhos para pacientes do Hospital São Marcos. 

Os recursos para custeio do equipamento vêm de diversas origens, como do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) com doações de empresas, além de doações de pessoas jurídicas e físicas. A laringe eletrônica custa entre R$ 1.500 e R$ 1.700. Uma das lutas da Associação é a incorporação da laringe eletrônica na tabela do Sistema Único de Saúde, para que seja custeada pelo órgão. 

As pessoas que utilizam a laringe eletrônica têm a chance de voltar a se comunicarem com os demais, o que representa um ganho em qualidade de vida. Helena Ribeiro, que acompanhava o aposentado Francisco Pereira de Oliveira, de 76 anos, conta que ele recebeu a notícia de que iria ganhar o equipamento com muita alegria. Operado em agosto de 2018, ele tinha, desde então, bastante dificuldade por ter perdido a voz. 

“Ele já foi cirurgiado e está fazendo a radioterapia desde fevereiro. Nós não sabíamos e a assistente social ligou pra mim contando essa novidade, desse projeto que era pra gente vir que ele teria a possibilidade de ter voz. Ele ficou muito feliz, que ia poder falar, que ia poder namorar. Ele fica muito apreensivo querendo falar e o som não sai, ele quer dizer algo e a gente não entende, faz gestos com as mãos”, relata. 


Dez pacientes receberam o equipamento laringe eletrônica que ajuda na reabilitação após cirurgia - Foto: Poliana Oliveira/O Dia

Dificuldade de diagnóstico 

O gestor de projetos da Associação de Câncer de Boca e Garganta, Eduardo Knoll, lembra que o câncer de cabeça e pescoço é desconhecido por muita gente, o que dificulta o diagnóstico, além do fato dos sintomas se confundirem com outras patologias e de não receber muita atenção. “O câncer de mama e próstata, por exemplo, a gente sabe que recebe bastante atenção. 

O câncer de cabeça e pescoço é negligenciado, tanto pela área da saúde, que tem um grande gasto com cirurgia, radioterapia, materiais e profissionais, como pelos sintomas que se confundem e fica um pouco difícil de identificar”, afirma. 

O gestor avalia que esse é um problema que afeta, sobretudo, pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ele nota, ainda, que muitos centros de saúde no país estão preparados para realizar o diagnóstico e o tratamento da doença, mas não têm as mesmas condições quando o assunto é a reabilitação. 

“São pessoas mais pobres, com pouco conhecimento e estudo. Esse tipo de pessoa, quando sofre de câncer de cabeça e pescoço, passa por uma cirurgia mutiladora. Às vezes, é tirada uma língua inteira, laringe, nariz, um grande pedaço da face ou maxilar. São problemas que acabam afetando tanto a parte física quanto psicológica do paciente”, assinala. 

Cirurgias 

O Hospital São Marcos, que atende pelo SUS, é referência no tratamento cirúrgico do câncer de cabeça e pescoço. O cirurgião Luís Bastos estima que realizou, pelo menos, 180 cirurgias desse tipo em 2018 e que, em média, são feitas 600 cirurgias por ano no Hospital. 

Causas, sintomas e tratamento

O câncer de cabeça e pescoço é, segundo a ACBG, uma denominação genérica de tumores que se originam de várias regiões das vias aereodigestivas, como boca, língua, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe (onde é formada a voz) e seios paranasais. De acordo com a entidade, esse é um problema de saúde pública em escala global, atingindo cerca de 500 mil pessoas todos os anos. As principais causas do câncer de pescoço e cabeça é o alcoolismo e o tabagismo. 

Segundo o cirurgião Luís Bastos, esse tipo de tumor é diagnosticado em fase muito avançada e por esse motivo o tratamento ocorre em um momento ruim, já que o ideal seria tratar a doença no estágio inicial. 

“O perfil do nosso doente no Brasil ainda é o perfil do paciente que usa muita bebida alcoólica e usa muito cigarro. É importante falar do paciente que tem esse tipo de tumor até para falarmos sobre prevenção, que é evitar o cigarro e a bebida alcoólica em excesso”, assinala. 

O médico explica ainda que as pessoas devem estar atentas a alguns sintomas focais que podem surgir, como lesões ou nódulos na boca que aparecem e demoram mais que duas a quatro semanas para desaparecer; nódulos no pescoço, que aparecem e começam a aumentar; alterações na voz que duram mais que quatro a seis semanas.

Por: Ananda Oliveira - Jornal O Dia
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