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Estudo sobre meme na política aponta efeito 'democratizador'

Segundo o estudo do Centro de Ciências Humanas Sociais e Aplicadas, a linguagem usada na internet, conhecida como 'meme', facilita a compreensão sobre os temas ligados a política.

12/06/2018 13:55

Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Humanas Sociais e Aplicadas da Unicamp (ICHSA), em Campinas (SP), aponta os "memes" - linguagem que viralizou nas redes sociais - como uma ferramenta de democratização da discussão política no país. O público é conquistado pela facilidade de compreender um conteúdo que ele acredita, compartilha, e se vê como um influenciador.

O estudo, elaborado como dissertação de mestrado pelo publicitário Renato Frigo, analisou uma série de memes políticos entre 2014, período em que ocorreu a última eleição presidencial, até 2017.

Sob a orientação do professor Rafael de Brito Dias, ele buscou entender o papel dos memes e medir até que ponto eles ajudam na construção de uma "ciberdemocracia", conceito desenvolvido pelo filósofo e sociólogo Pierre Levy.

Em um espaço como a internet, onde é possível a elaboração de seus próprios problemas e questões, a criação dos memes acaba refletindo a autonomia experienciada no ambiente virtual.

"Muitas vezes os memes substituem o papel da mídia tradicional, pois apresentam os personagens e os termos do jogo político através de um viés pré-estabelecido", afirma o publicitário.

O Brasil é um dos países que mais produzem memes políticos, aponta a pesquisa. Dos 2,5 mil analisados, foi constatado que os de tendência ideológica de direita são os que mais se propagam. A figura de linguagem acaba "reforçando posicionamentos", segundo o pesquisador.

Pesquisa da Unicamp analisou memes disseminados durante as eleições de 2014 (Foto: Reprodução/ Política, Memes e o Facebook no Brasil: em busca da ciberdemocracia/ICHSA/Unicamp)

Meme: origem e anonimato

De acordo com o levantamento do publicitário, o conceito de meme foi criado pelo pesquisador Richard Dawkins, em 1976. Por definição, ele é considerado uma unidade de evolução cultural que se autopropaga.

A figura de linguagem pode consistir em ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos ou morais. São "híbridos e mutantes por conceito".

Para ser classificado como meme é necessário que essa unidade de informação se repita e autopropague. Exemplos de "memes históricos" seriam as canções infantis, como "Atirei o pau no gato" , a música temática de aniversários "Parabéns para você" e superstições como a crença sobre "passar debaixo da escada dar azar".

Segundo Frigo, o meme, como é conhecido atualmente, é um fenômeno típico da internet com foco nas redes sociais e que pode se apresentar como uma coleção de textos, imagens, vídeos, comportamentos difundidos ou memórias compartilhadas.

"Devido sua natureza diversificada e não linear, os memes conseguem criar relações com todos os tipos de assuntos", diz.

Os memes têm como característica o anonimato daqueles que os criam. A não lineriedade faz com que todas as pessoas, independentemente do perfil, se sintam cativadas por eles.

Meme analisados na pesquisa do publicitário Renato Frigo, realizada pela Unicamp (Foto: Reprodução/ Política, Memes e o Facebook no Brasil: em busca da ciberdemocracia/ICHSA/Unicamp)

Democratização de discussões políticas

O número de memes produzidos no país com a temática política aumenta a cada ano, de acordo com a pesquisa.

"Segundo a definição de ciberdemocracia, a internet proporciona um progresso da democracia, já que, nela, pessoas podem por si próprias elaborar seus próprios problemas e questões e, eventualmente, submetê-los às autoridades responsáveis", diz Renato Frigo.

Para que se atinja a plenitude da democracia, no mundo virtual, o publicitário acredita ser necessário o desenvolvimento da educação, o combate à pobreza e a facilitação do acesso à internet pelas classes ainda fora da grande rede.

"Então, esses indicadores nos mostram que ainda estamos um tanto distantes da plena democracia digital. Mas, por outro lado, o uso de memes políticos no Brasil vem aumentando significativamente desde 2014, o que mostra a participação de mais pessoas neste tipo de discussão", afirma o pesquisador.

'Memes' disseminados durante o período de eleição presidencial de 2014 (Foto: Reprodução/Política, Memes e o Facebook no Brasil: em busca da ciberdemocracia/ICHSA/Unicamp)

Quanto mais divulgado, mais 'oficial'

O meme mantém a principal informação por meio do mecanismo de repetição. Quando divulgado várias vezes, pode se tornar o discurso oficial e influenciar a opinião pública. Por isso, apesar de marcar presença no mundo virtual, o fenômeno pode alcançar os eventos "reais", como eleições.

"Nos Estados Unidos foi possível medir o aumento do uso dos memes nas últimas três eleições presidenciais. No Brasil temos um grande uso dos memes para manifestações populares, valores partidários, eleições, ataques pessoais e principalmente humor", explica Renato.

Os memes não dependem de verba para serem produzidos. Atualmente, eles podem ser criados em aplicativos e ferramentas virtuais. Por isso, conseguem ser mais "atrativos e efetivos do que a publicidade tradicional, além de ser muito fácil de produzir e propagar".

''Podemos esperar que todos os partidos utilizem de memes para poder, assim, chegar mais perto do seu eleitor e também para se opor aos seus adversários, nas eleições de 2018", afirma.

Fonte: G1
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