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Água tratada gera renda e traz dignidade a famílias teresinenses Encanamento em bairros periféricos permite que moradores montem os próprios negócios e tenham renda de até R$ 2 mil.

Maria Clara Estrêla e Nathalia Amaral

As pessoas vivem em uma busca incessante pela dignidade. Um termo tão simples, mas que define muito do ser humano, ela está presente em tudo que enobrece a existência. Seja nos laços familiares, no reconhecimento profissional ou até mesmo na independência financeira que se conquista a duras penas. Viver com dignidade é ter consciência do próprio valor. Há uma filosofia antiga que diz que o trabalho dignifica o homem. Portanto, para alcançá-la é fundamental que as pessoas tenham condições de ter um ofício e o exercer.

Trata-se de ter formas de obter o próprio sustento e, assim, colaborar com a sociedade na qual está inserido. Uma das maiores contribuições que o ser humano pode dar em seu contexto social é justamente esta: o trabalho. Mas antes dele há uma série de outros fatores que precisam ser levados em conta como ter condições dignas de moradia, ter um espaço salubre onde se instalar e, sobretudo, ter condições de sobrevivência neste local.

O ser humano fica somente onde há recursos para que ele se mantenha ali. Antigamente, isso se resumia a água e comida em abundância. Nos dias de hoje, o aparelhamento urbano prevê outros elementos essenciais para a formação de aglomerados populacionais: um sistema de saneamento que funcione a contento, um sistema de abastecimento com água tratada que garanta qualidade de vida e, principalmente, que faça a economia girar e dê condições de sustento financeiro a toda uma parcela social.

Muito se fala que água é vida, mas essa frase pode ser elevada a um outro patamar: água é vida e dá condições para que a vida seja digna. E se o trabalho dignifica, então a água que contribui para que ele seja feito e tão importante quanto. É recurso natural que gera renda, que garante sustento e que se tornou a base econômica de inúmeras famílias em Teresina.

Não faltam na capital piauiense exemplos de bairros que se tornaram autossuficientes no quesito econômico. São regiões de grande concentração populacional que possuem desde comércios pequenos até filiais de grandes empreendimentos no ramo da prestação de serviços e vendas. Mas outras áreas em especial têm chamado a atenção: espaços que há poucos anos eram ocupações irregulares, hoje se convertem em aglomerados urbanos reconhecidos pelo poder público e que contam com um comércio local aquecido.

Formalmente reconhecida na capital há somente 3 anos, a Vila Nova Esperança, na zona Sudeste de Teresina, se formou a partir do assentamento de famílias que não tinham onde se estabelecer. Não muito longe no tempo, ainda em 2019, as casas que se erguiam no local dependiam de ligações irregulares de água para serem abastecidas. Os esgotos a céu aberto com as gambiarras expostas completavam o cenário. Hoje, as ruas de terra batida dão lugar a vias pavimentadas e no lugar de terrenos tomados pelo mato, uma nova arquitetura.

Foto 1: Jailson Soares/O Dia; Foto 2: Nathalia Amaral/O Dia

Mercearias, frutarias, salões de beleza e açougues, fora os empreendimentos montados dentro de casa por quem precisa complementar a renda. O que todos estes estabelecimentos têm em comum é a água tratada como insumo essencial para seu funcionamento. Desde a venda de dindins a lava-jatos, a Vila Nova Esperança caminha para se tornar um espaço urbano autossuficiente assim como outros bairros em seu entorno.

Um dos que decidiu abrir o próprio negócio depois da chegada de encanamento na vila foi o senhor Antônio Melo, 52 anos. Ele tinha um comércio no Alto da Ressurreição e quando se mudou para a Nova Esperança, encontrou na presença de água tratada uma segurança a mais para a sua mercearia. “A água encanada facilitou meu trabalho, porque eu consigo higienizar meus produtos direitinho e a clientela quando vem sabe que vai encontrar um produto de qualidade e limpo”, afirma.

Foto: Nathalia Amaral/O Dia

A decisão de montar a mercearia veio justamente por causa da presença de água tratada na vila. Antônio conta que, antes da instalação do encanamento geral, a água vinha de um poço ligada às casas por gambiarras, o que tornava o líquido barrento e impróprio para consumo. “Não dava para usar para lavar minhas frutas e verduras. As pessoas não iam querer consumir um produto que era higienizado com água suja”, explica o comerciante.

Foto: Assis Fernandes/O Dia

Hoje, Antônio Melo consegue arrecadar por mês uma média de R$ 2 mil só com as vendas na mercearia. Com o que ganha, ele garante o sustento próprio e da esposa, e consegue manter pelo menos as contas básicas em dia. “O talão que eu pago dá no máximo uns R$ 50,00 no mês. É um valor bom comparado ao que a água limpa me permite juntar. É um dinheiro que é bem investido”, finaliza Antônio.

No meio do caminho havia canos expostos e água barrenta

Dizem que para quem tem disposição, nada é impossível. Mas nem sempre se propor a fazer algo com foco total é garantia de que mais na frente se terá um retorno. Cristiane Silva Santana, 47 anos, viveu na pele a experiência e se tornou prova de que nem toda a garra para trabalhar é suficiente quando não há condições básicas para que seu ofício seja feito.

Ela mora na Vila Nova Esperança há 10 anos e acompanhou de perto o processo de ocupação e regularização do espaço. Viveu as dificuldades e tentou enfrentá-las, mas no meio do caminho não havia exatamente uma pedra. Havia um encanamento exposto e frágil que transportava água barrenta. Uma água que mais faltava do que abastecia. Cristiane vive em um terreno com duas residências na Vila Nova Esperança: em uma casa ficam o filho e a família dele. Na outra vivem ela e outra filha.

O complemento de renda vinha dos serviços que Cristiane fazia como cabeleireira e manicure. Só que nem sempre havia água para atender aos clientes. O que começou com pequenos imprevistos se tornou transtornos enormes que acabaram impedindo-a de trabalhar.

“Uma hora tinha água e outra não tinha, porque quando o pessoal lá da parte de cima ligava, para nós aqui de baixo faltava. Era tudo na gambiarra, era só um cano para um monte de gente. Se a gente ligava aqui, lá em cima ficava sem. Já cheguei a perder cliente que chegou para fazer um cabelo e eu não tinha água para lavar nem um fio”, lembra Cristiane.

Com os prejuízos sendo maiores que os ganhos, ela desistiu do negócio e se dedicou a outras formas de sustento como o artesanato. Em 2019, quando se iniciou a instalação de encanamento geral para os moradores da Vila Nova Esperança, ela decidiu voltar a utilizar a água como gerador de renda: investiu na produção e venda de dindins e produtos gelados. Por dia, Cristiane produz média de 80 dindins e arrecada mensalmente média de R$ 400,00 só com os produtos.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

Ela também voltou a fazer cabelos e unhas. Perder clientes hoje não é mais uma opção. “Agora se aparecer, eu atendo”, ela diz e completa: “Pago R$ 115,00 de água mais ou menos no mês, mas pelo menos tenho a garantia de que vai ter água na minha torneira 24 horas e que eu só vou poder recusar cliente se quiser, não porque não tenho como atender. Cada R$ 25,00 que entra por serviço conta e cada R$ 2,50 que eu ganho com cada dindim vendido, também. E isso só é possível porque tem água na minha torneira. Fiquei aqui e não saio”, finaliza dona Cristiane.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

Se tem quem venda, é porque tem quem compre

Onde há água, fica mais fácil da vida se desenvolver. Isso vale na Biologia, na Sociologia ou em que ciência for. Dificilmente alguém vai se assentar onde não há o que beber disponível, onde não há o básico para lavar e cozinhar. Água é fator de atração populacional, mas se por um lado, o encanamento regular agrega, por outro a falta dele leva à fuga.

Foi para fugir dos transtornos que não ter encanamento acarretava que dona Luciana Nogueira decidiu vender a casa onde vivia com o marido e as filhas e foi se fixar na Rua 03 da Vila Nova Esperança. A mudança aconteceu há dois anos. Ela morava no alto do morro que fica no entorno da vila. Por conta da altitude, a água chegava com mais lentidão e dificuldade às torneiras de quem vivia na área. Tarefas simples como lavar, cozinhar e beber se tornavam verdadeiros transtornos.

(Foto: Nathalia Amaral/O Dia)

Aperreio era a palavra. “A gente passava muito aperreio. Todo dia de manhã faltava água e só voltava de tarde. A gente tinha que dormir tarde esperando a água chegar e mesmo com o encanamento era como se ela não conseguisse subir. Se chegava era suja, não dava para usar em nada. Meu marido era que saía no carro de manhã cedo para pegar água na casa de uns conhecidos aqui embaixo para minhas meninas poderem banhar e ir para a escola”, relata Luciana.

(Foto: Assis Fernandes/O Dia)

A falta de água levou Luciana a descer o morro com a família. E enquanto moradora da Vila Nova Esperança, ela contribui para a formação de um mercado consumidor no bairro. Em geral o que utiliza em casa ela encontra nos estabelecimentos próximos. “A gente compra as coisas por aqui porque é mais perto e como meu marido é quem fica com o carro no trabalho, para eu sair daqui e ir fazer compra fora é muito gasto. Carne e fruta a gente acha aqui. No máximo no bairro aqui do lado. É cômodo”, finaliza a moradora.

Entre mercados consumidores e negócio local aquecido, o que fica claro é que onde há água tratada e de qualidade, a roda da economia gira. Em aglomerados urbanos que ainda estão em formação, então, a presença de um sistema de abastecimento é pedra fundamental para a expansão populacional e a correta ocupação do espaço.

Água tratada permite emancipação social de comunidades mais vulneráveis

O movimento é como uma mão lavando a outra: a água se torna motor de desenvolvimento social e econômico e contribui para o que os especialistas chamam de cooperativismo. Mais do que um recurso natural, a água se converte em recurso social importante para permitir que núcleos urbanos inteiros se tornem independentes, que funcionem por si e contribuam para a sociedade como um todo.

É o que explica o professor e sociólogo Weriquis Sales. Ele conta que a água tratada inserida em locais antes desassistidos em fator de autonomia social. “É um debate importante porque a água atende uma série de demandas sociais muito grande. Nesse sentido, levar água a famílias que estão em contexto de vulnerabilidade social é promover as formas para que elas consigam se emancipar economicamente, politicamente e socialmente”, diz.

(Foto: Nathalia Amaral/O Dia)

Segundo Weriquis, a presença de água encanada em espaços urbanos, sobretudo aqueles mais periféricos, faz a roda da economia girar porque funciona como espécie de combustível para gerar renda e eleva a sensação de pertencimento em conjunto.

“Falo como sustento da comunidade, porque muitas dessas famílias vão trabalhar em regime de associativismo e cooperativismo. Então tem um impacto para a comunidade local muito grande e cabe ao poder público ou a quem compete prestar este serviço não só fornecer essa água tratada, mas prover formas para que essas populações reconheçam aí uma ação que possibilita políticas sociais e econômicas para elas”, explica Weriquis.

Um dos principais exemplos de ações sociais desenvolvidas a partir do provimento de recursos naturais, sobretudo a água, são as feiras de bairros e aquelas promovidas por Organizações Não Governamentais. Weriquis lembra que estes espaços encontram no comércio local, principalmente aquele agroecológico e sustentável, uma maneira de manter a roda da economia girando e beneficiando.

“Temos visto muito isso em Teresina ultimamente e é interessante que se faça esse contexto político para efetivar a cidadania das populações mais vulneráveis. Isso passa pela promoção de recursos naturais em abundância, pela oferta de água sobretudo. É uma ação que não vai ficar restrita só à comunidade, mas que vai beneficiar toda a cidade”, finaliza o sociólogo.

É interessante que se faça esse contexto político para efetivar sua cidadania, para participar do processo socioeconômico da sociedade, ela vai ficar restrita não só à comunidade, ela vai beneficiar toda a cidade - WERIQUIS SALES, SOCIÓLOGO.

Do outro lado da rua: sistemas de abastecimento deficientes reduzem ganhos

Historicamente uma das principais bases econômicas de Teresina foi a pecuária. Ser banhada por dois rios ajudou a cidade a consolidar a criação de gado como fator de crescimento populacional e urbano. Com o passar do tempo e a expansão territorial da capital, o Poti e o Parnaíba passaram a se embrenhar por dentro da cidade através de tubulações e encanamentos que foram se tornando cada vez mais extensos e ramificados, permitindo o surgimento de uma porção de outras atividades econômicas.

O problema é que nem sempre essa estrutura consegue acompanhar a contento a demanda e o crescimento da cidade. Se na zona urbana da capital, o abastecimento com água tratada e encanada foi universalizado ainda 2020 pela Águas de Teresina, espaços onde a concessionária não atua parecem ter parado no tempo. Que o diga o trabalho braçal dos horticultores da horta comunitária do bairro Cerâmica Cil, na zona Rural da cidade. São ao menos 20 homens e mulheres de idade sendo obrigados a molhar suas plantações com um regador porque o espaço não possui estrutura de irrigação autômato muito embora tenha um poço instalado na sua entrada.

(Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Este poço foi cavado pelo poder público municipal e é de responsabilidade da Prefeitura de Teresina. No entanto, ele possui horário de funcionamento e quem não se adequar a ele, vê suas hortaliças sucumbirem sob a crueldade do sol da capital. Todos os dias às 6h, a água começa a chegar às manilhas espalhadas pela horta. Só que esse abastecimento cessa às 11h. De 6h às 8h30, os horticultores do lado esquerdo da horta enchem suas manilhas para regar seus canteiros. De 8h às 11h, é a vez dos horticultores do lado direito. Quem regar, regou. Quem não regar, só no dia seguinte.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

A limitação de horário para abastecimento de água na horta impacta negativamente na renda de quem encontra na lavoura uma forma de sustento. Dona Francisca Pereira de Sousa é moradora da Cerâmica Cil há 8 anos e compartilha desse dilema. “O resultado aqui é pouco e viver só daqui não dá. Às vezes a gente tem água uma vez no dia, às vezes duas, mas é muito incerto porque tem um poço só abastecendo”, desabafa.

Os irrigadores até foram instalados, mas os horticultores dizem que eles nunca chegaram a funcionar. A ausência de uma caixa d’água na horta também dificulta a vida dos trabalhadores. “Temos uma pessoa responsável pelo rodízio na hora de regar, mas o que a gente colhe tem semana que não dá para apurar nem R$ 30,00. No máximo eu vendo uns R$ 100,00”, explica dona Francisca. Ela é aposentada como lavradora e o que arrecada na horta complementa a renda que mantém a casa e compra os medicamentos do marido adoentado.

(Foto: Assis Fernandes/O Dia)

No risco de não ter água para regar as hortaliças, tem gente que madruga na horta da Cerâmica Cil. É o senhor Antônio Pereira das Neves. Aos 77 anos, ele acorda todos os dias com o nascer do sol para garantir que suas alfaces, maxixes e cheiros-verdes não morram. “Aqui não tem condição de dar muita coisa porque é seco. No inverno é um mato que não tem quem vença e no verão precisamos pegar o regador e molhar umas duas vezes no dia para não morrer nada. A água que vem para as manilhas não é muito forte e nem suficiente para a gente molhar à vontade”, desabafa o horticultor.

Assim como dona Francisca, o senhor Antônio afirma que a presença de água encanada ou ao menos de uma estrutura de irrigação que funcionasse sem horário marcado ajudaria bastante na hora de manter o sustento de sua família. Com a pequena plantação de hortaliças, ele arrecada média de R$ 180,00 no mês para complementar a renda de casa. Além do que tira na horta, Antônio recebe uma tímida aposentadoria como lavrador. O dinheiro, no fim das contas, às vezes é insuficiente para cobrir todos os gastos.

(Foto: Assis Fernandes/O Dia)

O paradoxo está a uma rua de distância. Se de um lado da Cerâmica Cil, os horticultores enfrentam dificuldades com um único poço abastecendo os canteiros, do outro lado, a presença de um encanamento geral garante água tratada nas torneiras 24 horas por dia. Pelo menos 5.300 pessoas foram beneficiadas com a implantação de mais de 300 metros de rede de água recentemente. A ação coordenada pela Águas de Teresina eliminou gambiarras e reduziu as perdas no sistema, o que permite uma melhor prestação do serviço.

Essas perdas de água acabam por sobrecarregar a rede de abastecimento e, apesar de ser algo comum no setor, o objetivo é sempre reduzi-las o máximo possível. Quem explica é o diretor-presidente da Águas de Teresina, Jacy Prado.

“Não é só perda de água. É perda de energia elétrica, perda de mão de obra e de produto químico. A perda é uma coisa comum no saneamento e existe até nos países mais desenvolvidos. Aqui em Teresina nós estamos evoluindo e a nossa meta contratual é 25%, que deve ser atingida por volta de 2027. É uma meta bastante agressiva e que envolve muito investimento”, diz Jacy Prado.

Reduzir perdas no abastecimento e garantir que a água chegue às torneiras dos teresinenses é um trabalho bastante delicado porque envolve saber o que acontece debaixo da terra onde a olhos nus nada é visível. Na rede de distribuição de Teresina, então, essa é uma tarefa ainda mais desafiadora: isso porque são mais de 3 mil Km de rede. Se posto em linha reta, o encanamento da capital chegaria à cidade de Curitiba.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

É nessas horas que entra em ação o Centro de Controle Operacional (CCO), que monitora em tempo real a rede de abastecimento de água de Teresina e detecta problemas como queda de pressão e vazamentos para imediatamente apontar onde as equipes devem atuar no sentido de resolver a situação.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

Quando a Águas de Teresina assumiu o serviço de águas de esgoto da capital, a cidade tinha aproximadamente 68% de perda de água com vazamentos ou ligações irregulares. Significa dizer que a cada 1 mil litros colocados no sistema, mais de 600 eram perdidos antes de chegar ao consumidor regular. Em 2019, a empresa estimava que a perda de água seria suficiente para abastecer uma cidade inteira de 300 mil habitantes. Ao final de 2021, as perdas do sistema foram reduzidas para 40%.

O investimento total feito pela empresa desde que assumiu os serviços de águas e esgotos em Teresina já soma cerca de R$ 1 bilhão. Isso inclui ampliação da rede de produção e distribuição, ampliação das Estações de Tratamento de Água (ETA Sul e ETA Norte), modernização de laboratórios, aquisição de bombas e demais equipamentos.

Essa rede toda segue em ampliação: nos últimos meses localidades como Residencial Anselmo Dias, Vila Magnólia, Vila Cidade Leste II, Palitolândia, Residencial Betinho II, Vila Madre Teresa, Jacinta Andrade e outras tiveram seu encanamento regularizado.

Investir em água funciona porque água também atrai investimentos

Quando o sistema de abastecimento de água e tratamento de esgotos da capital foi assumido pela Águas de Teresina em 2017, um dos principais desafios postos como meta contratual era contribuir com o desenvolvimento econômico da cidade e prestar um serviço mais eficiente. O problema da cidade era crônico, segundo representantes da empresa: a zona urbana sofria muito com falta d’água e o que não faltavam eram reclamações dos usuários.

A primeira ação foi expandir a rede e cumprir a meta principal do contrato: universalizar o fornecimento de água tratada em Teresina. Isso foi feito ainda em 2020. Com mais famílias tendo acesso a água encanada pela primeira vez, a qualidade de vida aumentou: gastos com a saúde diminuíram em razão da redução do adoecimento por doenças de transmissão hídrica e as possibilidade de investimento acabaram aumentando.

É que a água atrai investimentos. Pelo menos 6% de toda a base cadastral de ligações da Águas de Teresina é comercial. Em números absolutos, são cerca de 20 mil ligações regulares atendendo a pequenos e grandes empreendimentos que vão desde os comércios de bairro até indústrias.

(Foto: Jailson Soares/O Dia)

“Nenhuma empresa vai se instalar onde não tem água. O saneamento é fundamental para atrair empresas, recursos e investimentos. Sem contar a qualidade de vida da população e a dignidade, que é o mais importante. Aquela sensação de pertencimento tendo uma água de qualidade. Temos casos de pessoas que nunca tinham tomado banho em um chuveiro: a gente fez a ligação de água e a pessoa pode usar o chuveiro pela primeira vez. Não há como mensurar o quanto isso impacta na vida das pessoas. É algo que só elas mesmas podem dizer”, pontua Jacy Prado.

(Foto: Nathalia Amaral/O Dia)

Os outros 92% das ligações de água de Teresina são residenciais. De acordo com o presidente da concessionária, a Águas de Teresina conta com 330 mil ligações em sua base cadastral, cada uma correspondendo a uma residência ou estabelecimento comercial. Isso somente na área urbana da capital. Em média, três pessoas são atendidas em cada domicílio. No final das contas são aproximadamente 1 milhão de habitantes beneficiados com água tratada regularmente.

(Foto: Nathalia Amaral/O Dia)

E do mesmo jeito que a universalização do acesso à água tratada não é mais realidade distante, a universalização do esgotamento sanitário também pode deixar de ser. É que o novo marco regulatório do setor, que foi sancionado em 2020, prevê que, para a universalização do saneamento no Brasil, é necessário aproximadamente R$ 700 a 800 bilhões de investimento. São quase R$ 1 trilhão de investimento para que 99% da população tenha água tratada e 90% tenha esgotamento sanitário.

(Fotos: Jailson Soares/O Dia)

Teresina está quase lá: de 19% em 2017, a coleta e tratamento de esgoto na capital saltou para 42% em 2021. O número mais que dobrou. A meta, de acordo com o presidente da Águas de Teresina, é alcançar 59% de esgotamento sanitário até 2024.

Saneamento e água tratada impactam sim em todos os setores da vida

Consumir água tratada reduz adoecimentos: a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a cada R$ 1,00 investido em saneamento, economiza-se R$ 4,00 em saúde. A presença de uma rede de distribuição também está relacionada à valorização imobiliária. O diretor-presidente da Águas de Teresina, Jacy Prado, é quem explica.

“Imagine o quanto um imóvel valoriza a partir do saneamento e do momento em que ele passa a ter uma água de qualidade e um esgoto coletado e tratado. O Instituto Trata Brasil diz que é pelo menos 15% de valorização imobiliária no instante zero, ou seja, no momento em que a cidade passa a ter saneamento”, diz.

Jacy Prado explica como a água impacta positivamente na vida das pessoas - Foto: Jailson Soares/O Dia

Na educação, o acesso à água encanada é aliado na redução da evasão escolar: quanto menos crianças doentes, menos alunos faltosos nas salas de aula.

Jacy Prado completa: “Eu sempre falo que a doença do saneamento é crônica, porque às vezes você não percebe que está doente. Você tem um problema de crescimento e não sabe, porque não procura o hospital. Como é crônico, não existe uma emergência. Só depois que o saneamento chega é que as pessoas que conviveram com a falta dele vão perceber o quanto aquilo afetou negativamente sua vida. Nós queremos que a água impacte positivamente, não negativamente. Que ela gere empregos, renda e que faça a cidade crescer”, finaliza.