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Com reajuste, gastos com ônibus representam 15,5% do salário mínimo

Usuários apontam veículos velhos e atrasos como problemas diários do transporte público, e para eles não justifica o aumento da passagem em Teresina

08/01/2018 08:41

“Eu moro em José de Freitas e, pra estudar, eu pego quatro ônibus por dia”, conta Naiara Félix, de 19 anos. Ela faz licenciatura em História, na Universidade Federal do Piauí, Campus Petrônio Portela. Em uma rotina cansativa, a estudante, que mora em um dos munícipios próximos à capital, passa pela dificuldade de pagar duas conduções de valores diferentes.

Naiara Félix revela que seus pais, que moram em José de Freitas, se desdobram para conseguir pagar seu transporte. Foto: Moura Alves

Com o reajuste, o valor da passagem inteira passou de R$ 3,30 para R$ 3,71 e a meia de R$ 1,05 para R$ 1,18. “Eu pago R$ 5 no ônibus que vem de José de Freitas pra cá, mais a passagem do coletivo aqui, como sou estudante também vou passar a pagar mais, R$ 1,18 agora. Gasto, por dia, em torno de R$ 6 e mais uns centavos”, conta a estudante.

Segundo o economista Fernando Galvão, com o reajuste da passagem, uma pessoa que ganha apenas R$ 954 - valor atual do salário mínimo - e que utiliza duas passagens por dia, pode gastar R$ 148,40 por mês, ou seja, 15,5% do valor do seu salário.

Já uma família que paga duas passagens inteiras e duas meias (supondo que o casal tenha dois filhos, e cada um ganhe um salário mínimo), gasta R$ 296,80 nas inteiras e R$ 94,40 nas meias passagens. “No total, a família vai gastar R$ 391,20 ou 20,5% do salário somente em transporte público”, revela o especialista.

Em uma comparação com a cesta básica, alimentação ínfima e necessária de uma família, o economista afirma: “Se compararmos o percentual dos transportes mais os gastos com a cesta básica, serão gastos 64,8% do salário mínimo. Este percentual altíssimo é apenas o custo do transporte e da comida”, esclarece Fernando Galvão.

Os altos custos de outros produtos como gasolina, gás de cozinha e os serviços de energia elétrica e água são outras despesas que afligem e pesam no bolso do trabalhador, tornando, assim, o novo salário mínimo insuficiente para tantos gastos. “São gastos extremos. Se falarmos de dívidas, vestuário, lazer, educação e saúde, o valor ultrapassa o salário mínimo”, completa o economista.

Frota precária não justifica aumento, avaliam passageiros

Naiara Félix e Rita de Cássia, ambas dependem do transporte público para ir para universidade. Foto: Moura Alves/ODIA

Com as longas esperas e o cansaço do trajeto, Naiara Félix reclama também das condições estruturais dos transportes públicos em Teresina. “Os coletivos que eu pego aqui [Teresina] geralmente são ruins. Tem cadeira quebrada, não tem muito espaço para as pessoas ficarem em pé, poucos assentos”, comenta.

O calor, a chuva e a insegurança nos pontos de ônibus somam-se às preocupações da estudante. Ela diz gastar quase R$ 400 por mês para se locomover entre as duas cidades. “Eu acho um absurdo pagar tanto para um serviço tão escasso, ainda tem o agravante do meu ônibus não fazer integração. Normalmente, eu pago meus passes de ônibus com o dinheiro da ajuda de custo que recebo da universidade”, revela.

Os pais de Naiara Félix residem em José de Freitas e, desde que a filha passou para a universidade, fazem o possível para mantê-la. “Meu pai recebe um salário mínimo, não tem como me manter aqui, ele já fez muito esforço pra pagar meu transporte enquanto eu não conseguia uma bolsa estudantil. É uma situação difícil”, lamenta.

Já a estudante de sociologia Rita de Cássia Sousa sobrevive com os bicos de lavadeira da mãe e a pensão do pai que faleceu. Ela pega quatro ônibus da sua casa, no bairro Promorar, zona Sul de Teresina, até a universidade. “Eu geralmente pego dois ônibus pra vir e dois pra voltar, faço integração. Mas, o ônibus demora, normalmente passo uma hora e meia no trajeto, tirando o trânsito”, conta.

Ela diz gastar geralmente R$ 50 reais por mês com passes na carteira de estudante. “Quem me ajuda com o dinheiro é minha mãe e meu padrasto. Às vezes, ela me dá R$ 10 por semana, às vezes ele me dá. Apesar da situação ser difícil na minha casa, a gente vem dando um jeito”, revela.

Com o aumento da passagem, Rita de Cássia conta que vai ter que pedir mais dinheiro aos seus pais, vai ter que economizar no almoço e no lanche, no lazer e nas xerox da universidade. “Muitas vezes, eu tenho que deixar de comprar alguma coisa pra mim pra poder voltar pra casa. Eu já faço isso, agora vai piorar”, diz.

Edição: Virgiane Passos
Por: Gabrielle Alcântara
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