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Quadrilhas, comidas típicas e toda a magia do mês junino

O festejo, como conhecemos hoje, foi sendo adaptado ao longo dos anos e é uma soma de elementos de diversas culturas.

16/06/2018 09:06

A multicultura das festas juninas torna esta data um momento muito esperado pelos brasileiros, principalmente para quem é da região Nordeste, onde a tradição dos folguedos é mais marcante. O festejo, como conhecemos hoje, foi sendo adaptado ao longo dos anos e é uma soma de elementos de diversas culturas de todo o mundo. 

As festividades juninas têm essa denominação em razão da homenagem feita aos santos populares em Portugal: Santo Antônio, São João e São Pedro, que são padroeiros do mês de junho. Essa tradição foi disseminada no Brasil com a chegada dos europeus, especialmente dos portugueses, durante o período de colonização. Porém, muitos elementos são originários de outros países.


Foto: Jailson Soares/ODIA

É o que conta o professor e historiador Bernardo Pereira, especialista em cultura e memória. “A quadrilha é de origem francesa e era uma dança de salão, mais nobre e marcada. Espanhóis e portugueses passam para o Brasil durante o processo de colonização, mas esse aspecto da dança nobre foi sendo descaracterizado. Mas, mesmo depois de muito tempo, algumas expressões da língua francesa mantidas até hoje nos passos das quadrilhas, como ‘alavantú’ e ‘narriê’”, comenta.

Mesmo sendo uma cultura bastante tradicional no Nordeste do Brasil, as festas juninas são praticadas em todo o país, agregando elementos culturais de cada local, que criam passos e figurinos diferenciados. 

Para o historiador, essas festividades perderam, ao longo dos anos, as características originais e passaram a ser mais estilizadas, onde as roupas tornaram-se fantasias luxuosas e as danças um verdadeiro espetáculo, com coreografias marcadas e decoradas. “É bonito de se ver, mas não tem mais aquela identidade de como era antes”, frisa.

Foto: Jailson Soares/ODIA

Bernardo Pereira destaca que alguns elementos originais ainda permanecem, mas que os grupos juninos estão adaptando e acrescentando novos passos em suas apresentações. Eles incorporam tanto cena típicas da zona rural, como o casamento matuto, como também abordam problemáticas atuais, como a seca ou política.

“Antigamente, as quadrilhas tinham passos ensaiados e tradicionais, como a dama cumprimentar o cavalheiro, caracol, serrote, passos bastantes conhecidos. Hoje, cada quadrilha cria sua coreografia. Os grupos são compostos por mais de 60 pessoas, como se fosse, duas ou três quadrilhas integrando em uma só, porém, com figurinos distintos, mas de maneira harmoniosa e dentro de uma policromia”, enfatiza a historiador.

Preservação da cultura

Apesar das festas juninas serem uma tradição, essas manifestações populares têm perdido sua representativa, sobretudo por falta de conhecimento da população e propagação da sua importância para a cultura brasileira. O professor e historiador Bernardo Pereira enfatiza a necessidade da preservação dessas e de outras manifestações presentes no País.

Foto: Jailson Soares/ODIA

“A cultura sobrevive porque é popular. Eu acho interessante que se preserve isso, porque ela representa a identidade cultural de um povo e de um país, ainda que haja as peculiaridades e as diferenças regionais. Os festejos juninos e a importância dessas festas deveriam ser repassados nas escolas, não somente as quadrilhas, mas outros folguedos. No Piauí, isso vem sendo perdido, principalmente nas grandes cidades por envolver um perfil comercial, diferente dos municípios mais do interior, que ainda é mantido”, acrescenta, citando algumas  manifestações culturais, como o Cavalo Piancó, as Rodas de São Benedito e São Gonçalo, pastoril, reisado, entre outras

Uma das tradições que ainda sobrevive, além das quadrilhas, é o Bumba Meu Boi, manifestação que está ligada à pecuária. No Piauí, muitos dos brincantes dos bois ainda são integrantes originais, “diferente do Maranhão, por exemplo, que se tornou uma estilização e eles agregam outros elementos que acabam descaracterizando um pouco. Para nós, essa cultura popular não é vista pela classe média como uma cultura que deva ser preservada. O boi é visto como algo feito por quem mora na periferia, de pobre, pessoas menos instruídas, e isso é muito ruim, mas porque as pessoas não foram ensinadas a valorizar essa cultura como um elemento de identidade cultural local e estamos perdendo isso”, finaliza.

Por: Isabela Lopes
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