A constatação da pandemia causada pelo novo coronavírus, em
declaração da Organização Mundial de Saúde
(OMS), no dia 11 de março,
despertou o Brasil para a composição "O dia em que Terra parou", de Raul Seixas, gravada em
dezembro de 1977. A mensagem apocalíptica
mostrava o isolamento social, tempo em que ninguém tinha mais o que fazer fora
de casa, por uma imperiosa circunstância. A contemporaneidade da letra de Raul
- morto há 31 anos - comprova a sua
atemporalidade e o porquê da constante redescoberta de seu talento através dos
anos.
Foto: Reprodução Wikipedia.
"A minha relação com a música de Raul Seixas talvez não tenha iniciado de maneira muito diferente das dos inúmeros fãs dele. A indignação, a contestação, a rebeldia própria da adolescência exigia, também em mim, a emergência. E o som do Raul carregava muitos elementos que se alinhavam a isso. Mas há aqui uma diferença da geração dos meus pais, por exemplo: meus 15, 16, 17 anos foram já na segunda metade da década de 80. E não na de 70, quando Raul estourou nas paradas de sucesso", ressalta o jornalista Raimundo Filho, explicando a sua idolatria pelo "cowboy fora da lei".
Para Raimundo Filho, essa inquietação quase unânime entre os adolescentes, seguramente, foi o que o direcionou à obra de Raul Seixas: "Bom, talvez o esoterismo, as letras inteligentes, o protesto, a mistura de ritmos...tudo isso batia com o que me atraia na época. Eu estudava muita história, era bem ligado ao espiritualismo, irrequieto, combativo...Mas essa atração pela obra de Raul levou meu pai a perguntar a minha mãe: ‘Por que esse menino não escuta música da época dele?’. A influência de Raul Seixas na minha vida foi tanta que marcou muito as minhas leituras de mundo", confessa.
"Eu idolatrava tanto a inteligência desse cara, a criatividade dele que sempre quis que meu filho se chamasse Raul. Coincidentemente, minha esposa se chama Lussandra. Eu além de homenagear meu ídolo no nome do meu filho, ainda o fiz com as iniciais do meu nome, juntadas as do nome da mãe, trocadas as duas primeiras letras. Quase a mesma lógica de Raul a fazer a letra de Lua Cheia, quando ele diz: "Luar é meu nome aos avessos". Quer prova maior dessa influência? Isso é Raulseixismo puro!", comemora pelo encontro com Raul Seixas e pelo fato do filho já estar ligado no "maluco beleza".
Bendito pau-de-arara
No final da década de 70, mais precisamente em 1979, o então adolescente de 13 anos Júnior Canadá, e hoje empresário, fez uma viagem à praia em Luís Correia, em cima de um pau-de-a- rara (caminhão, apenas com lona na carroceria e bancos de madeira alinhados, que mal cabiam as pernas e joelhos dobrados). Um amigo que levava um violão começou a tocar umas músicas diferentes, inéditas para ele até aquele momento. Uma delas lhe marcou para sempre: "As Minas do Rei Salomão", de Raul Seixas e Paulo Coelho. (“Entre, vem correndo para mim/Meu princípio já chegou ao fim/E o que me resta agora é o seu amor/Traga a sua bola de cristal/E aquele incenso do Nepal/Que você comprou num camelô”).
Foto: Arquivo Pessoal.
"Achei muito diferente das tradicionais, e comecei a indagar sobre aquela música e sobre o cantor... e assim curtimos ao som de um violão na ida, durante e na volta da praia muitas músicas de Raul Seixas. Ao final da viagem, fui presenteado pelo amigo violonista com um disco daquele que a partir de outrora começou a ser um de meus ídolos", argumenta Júnior Canadá, acrescentando que passou a gostar e colecionar os LPs de Raul "e posteriormente me filiei ao RRC (Raul Rock Club) aos 23 anos. Comprei e ganhei outros LPs, pôsteres e livros que falavam do músico e assim fiquei sendo referência em meu povoado (Brasileira), atualmente município independente."
Foto: Arquivo Pessoal.
Já no final da década de 1980 e início dos anos de 1990, Júnior Canadá foi proprietário de um bar, e como sempre buscando fazer diferente, os discos mais “rodados” eram os do baiano de “Quem-guem-nhem” e aos poucos os clientes começaram a ouvir e gostar das músicas do então desconhecido Raul Seixas.
"Raul foi um grande diferencial em minha juventude, e me marcou muito. Nunca usei drogas nem enveredei pelo caminho da maldade, como muitos pensam a respeito de quem curte Raul. Sou do bem e trago comigo até hoje a bandeira da paz em busca de um mundo melhor", conclui.
Por: Marco Atônio Vilarinho