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Raul Seixas: o dia em que a Terra parou

Há 31 anos morria um dos maiores ídolos da Música Popular Brasileira, mas suas composições bem construídas, e recheadas de mensagens apocalípticas, atravessam décadas

22/08/2020 09:16

A constatação da pandemia causada pelo novo coronavírus, em declaração da Organização Mundial de Saúde  (OMS), no dia 11 de março,  despertou o Brasil para a composição "O dia em que Terra  parou", de Raul Seixas, gravada em dezembro de 1977.  A mensagem apocalíptica mostrava o isolamento social, tempo em que ninguém tinha mais o que fazer fora de casa, por uma imperiosa circunstância. A contemporaneidade da letra de Raul - morto  há 31 anos - comprova a sua atemporalidade e o porquê da constante redescoberta de seu talento através dos anos.

Foto: Reprodução Wikipedia.

"A minha relação com a música de Raul Seixas talvez não tenha iniciado de maneira  muito diferente das dos inúmeros fãs dele. A indignação, a contestação, a rebeldia própria da adolescência  exigia, também em mim, a emergência. E o som do  Raul carregava muitos elementos que se alinhavam a isso. Mas há aqui uma diferença da geração dos meus  pais, por exemplo: meus 15,  16, 17 anos foram já na segunda metade da década de  80. E não na de 70, quando Raul estourou nas paradas  de sucesso", ressalta o jornalista Raimundo Filho, explicando a sua idolatria pelo "cowboy fora da lei".

Para Raimundo Filho, essa inquietação quase unânime entre os adolescentes, seguramente, foi o que o direcionou à obra de Raul Seixas:  "Bom, talvez o esoterismo, as  letras inteligentes, o protesto, a mistura de ritmos...tudo  isso batia com o que me atraia na época. Eu estudava muita história, era bem ligado ao espiritualismo, irrequieto, combativo...Mas essa atração pela obra de Raul levou meu pai a perguntar a minha mãe:  ‘Por que esse menino não escuta música da época dele?’.  A influência de Raul Seixas na minha vida foi tanta que  marcou muito as minhas leituras de mundo", confessa.

 "Eu idolatrava tanto a inteligência desse cara, a criatividade dele que sempre quis que meu filho se chamasse  Raul. Coincidentemente, minha esposa se chama Lussandra. Eu além de homenagear  meu ídolo no nome do meu  filho, ainda o fiz com as iniciais do meu nome, juntadas  as do nome da mãe, trocadas as duas primeiras letras.  Quase a mesma lógica de Raul a fazer a letra de Lua Cheia, quando ele diz: "Luar é meu nome aos avessos".  Quer prova maior dessa influência? Isso é Raulseixismo puro!", comemora pelo  encontro com Raul Seixas e  pelo fato do filho já estar ligado no "maluco beleza".

Bendito pau-de-arara

No final da década de 70, mais precisamente em 1979, o então adolescente de 13 anos Júnior Canadá, e hoje empresário, fez uma viagem à praia em Luís Correia, em cima de um pau-de-a- rara (caminhão, apenas com lona na carroceria  e bancos de madeira alinhados, que mal cabiam as pernas e joelhos dobrados). Um amigo que levava um violão começou a tocar umas músicas diferentes, inéditas para ele até aquele momento. Uma delas lhe marcou para sempre: "As Minas do Rei Salomão", de Raul Seixas e Paulo Coelho. (“Entre, vem correndo para mim/Meu princípio já chegou ao fim/E o que me resta agora é o seu amor/Traga a sua bola de cristal/E aquele incenso do Nepal/Que você comprou num camelô”). 

Foto: Arquivo Pessoal.

"Achei muito diferente das tradicionais, e comecei a indagar sobre aquela música e sobre o  cantor... e assim curtimos ao som de um violão na ida, durante e na volta da praia muitas músicas de Raul Seixas. Ao final da viagem, fui presenteado pelo amigo violonista com um disco  daquele que a partir de outrora começou a ser um de meus ídolos", argumenta Júnior Canadá, acrescentando que passou a gostar e colecionar os LPs de Raul "e posteriormente me filiei ao RRC (Raul Rock Club) aos 23 anos. Comprei e ganhei outros LPs, pôsteres e livros que falavam do músico e assim fiquei sendo referência em  meu povoado (Brasileira), atualmente município independente."

Foto: Arquivo Pessoal. 

Já no final da década de 1980 e início dos anos de 1990, Júnior Canadá foi proprietário de um bar, e como sempre buscando fazer diferente, os discos mais “rodados” eram os do baiano de “Quem-guem-nhem” e aos poucos os clientes começaram a ouvir e gostar das músicas do então desconhecido Raul Seixas.

"Raul foi um grande diferencial em minha juventude, e me marcou muito. Nunca usei drogas nem enveredei pelo caminho da maldade, como muitos pensam a respeito de quem curte Raul. Sou do bem e trago comigo até hoje a bandeira da paz em busca de um mundo melhor", conclui.

Por: Marco Atônio Vilarinho
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